Questão Urbana e Injustiças Territoriais: A (In) Mobilidade das Mulheres Negras nas Cidades
Questão Urbana. Cidades. Mulheres. Feminismo Negro. Urbanismo Feminista.
Esta tese tem como centralidade as desigualdades de gênero no espaço urbano, em especial as interdições das mulheres negras em sua mobilidade urbana. Problematizamos como a cidade é expressão constitutiva, material e simbólica, do sistema de dominação-exploração, que se estrutura por meio das desigualdades de classe, gênero e raça, promovendo processos segregatórios e de violência sexista profundamente racializados na vivência territorial. Além de a dimensão espacial reproduzir as construções sociais e representações, sob a ótica do binarismo das categorias de sexos. Para apreensão do real, trabalhamos com elementos que expressam as experiências das mulheres negras na mobilidade urbana, que diz respeito ao ir e vir do local de moradia ao trajeto cotidiano, em razão da vida produtiva e da reprodução social e de cuidados. A perspectiva adotada, para estudo da questão social urbana, considera a desigualdade de gênero na mobilidade e para uso do transporte coletivo, inclusive a diferença de tempo socialmente gasto, entre homens e mulheres, ancorada na interseccionalidade das opressões, alinhado as preocupações do feminismo negro e antirracista. O objetivo geral do trabalho é analisar as tendências e contradições do modelo de urbanização sobre o sistema de transporte coletivo e as inflexões que provoca no cotidiano de mobilidade das mulheres populares e negras, para sua produção e reprodução social, considerando a interseccionalidade de classe, raça e gênero/vivência sexual. Para tanto, recorremos a realização de pesquisa documental em três jornais locais, observação da circulação em dois terminais integrados de passageiros (as) na cidade do Recife, quinze entrevistas, sendo dez com militantes feministas e cinco usuárias, não militantes, do transporte coletivo. Os resultados apontam que as mulheres populares e negras, vivenciam a mobilidade urbana em condições inseguras, precárias, violentas. Denunciam situações como: crescente medo frente aos riscos de violências físicas - roubos, abusos sexuais, importunações, estupros - a qualquer hora do dia e em qualquer local. O tempo, de desgaste e exposição gerados pela precariedade dos transportes públicos e coletivos em na sua dinâmica cotidiana. Neste termos, concluímos que as mulheres vivenciam de modo diferente e desigual, em termos de tempo e espaço, os deslocamentos cotidianos na cidade, em razão das determinações e imposições da divisão sexual e racial do trabalho, advindas da estrutura patriarcal-colonial-racista, que constitui o espaço sociourbano, centrado na figura masculina, no padrão da supremacia branca, que molda a dimensão física e espacial das cidades, promotora de ambiente inóspito às mulheres, marcado pela insegurança, medo e controle político-sexual sobre seus corpos.