CARACTERIZAÇÃO E UTILIZAÇÃO SUSTENTÁVEL DO ÓLEO E DO RESÍDUO DA SEMENTE DE FAVELEIRA (Cnidoscolus quercifolius): AGREGAÇÃO DE VALOR A UMA FORRAGEIRA DO SEMIÁRIDO
alimento funcional; compostos bioativos vegetais; farinha; subproduto; biscoito.
A faveleira é uma planta forrageira encontrada no semiárido, faz parte do bioma
Caatinga e possui sementes oleaginosas que podem ser utilizadas para obtenção de
óleo. Durante a prensagem das sementes para obtenção desse óleo é gerado um
resíduo chamado de torta, cuja utilização como ingrediente alimentício é uma forma
de agregar valor ao resíduo, diversificar os produtos disponíveis no mercado e
promover uma produção de óleo sustentável. O presente trabalho visa caracterizar e
utilizar de forma sustentável o óleo e o resíduo da semente de faveleira. Para tanto, a
semente foi prensada, o óleo foi caracterizado (análises físico-químicas, composição
química, estabilidade, toxicidade e bioatividade), o resíduo foi seco em estufa (60 °C
por 10 horas) e triturado para produção de farinha que foi caracterizada (composição
centesimal, compostos fenólicos, capacidade antioxidante e propriedades
tecnológicas) e empregada na preparação de biscoitos, substituindo a farinha de trigo
em diferentes níveis (0, 25 e 50%). Os biscoitos foram avaliados quanto à composição
centesimal, conteúdo fenólico, atividade antioxidante e aspectos físicos,
microbiológicos e sensoriais. Observou-se que o óleo apresenta teor de acidez igual
a 0,33 ± 0,09% de ácido oleico e índice de peróxido igual a zero imediatamente após
a extração, 1,82 ± 0,01 mg de clorofila, 0,79 ± 0,01 mg de carotenoides e 0,28 ± 0,01
mg β-caroteno por quilo de óleo e predominância de ácidos graxos insaturados (71,61
± 0,08%). Além de apresentar estabilidade térmica e oxidativa e conteúdo fenólico
total igual a 108,11 ± 8,14 mg AGE/100 g de óleo, predominando vanilina (2,60 ± 0,24
mg/Kg de óleo), eugenol (2,08 ± 0,03 mg/Kg de óleo) e quercetina (1,33 ± 0,05 mg/Kg
de óleo). O óleo não apresentou toxicidade in vitro e in vivo e apresentou atividade
antioxidante, anti-inflamatória e antinociceptiva. A farinha é rica em fibras (35,94 ±
0,11%), tem atividade antioxidante e conteúdo fenólico total igual a 2070,94 ± 81,70
mg AGE/100 g de extrato seco, predominando ácido gálico (21015,85 ± 4981,76 μg/g
de extrato seco). Os ácidos graxos insaturados estão em maior proporção (71,42%) e
a farinha possui 0,18 ± 0,01 de atividade de água e 92,00 ± 2,83% de capacidade de
absorção de óleo. A substituição parcial da farinha de trigo pela farinha da torta da
semente de faveleira melhorou a qualidade nutricional e bioativa dos biscoitos,
aumentando o teor de cinzas, lipídeos, proteínas, fibras, conteúdo fenólico total e
atividade antioxidante. Os ácidos graxos predominantes nas 3 formulações foram
palmítico (31,20-37,38%) e oleico (26,43-30,47%). Diâmetro, espessura, volume e
fator de expansão foram iguais para as 3 formulações, mas a adição da farinha de
faveleira aumentou a massa dos biscoitos. Além disso, não houve contaminação em
nenhuma das formulações e todas foram bem aceitas e passíveis de comercialização.
Sendo assim, sugere-se que o óleo, bem como a farinha da torta da semente de
faveleira e os biscoitos formulados com essa farinha, têm boas caraterísticas para
serem empregados na alimentação humana como alimentos funcionais, agregando
valor a uma forrageira do semiárido e evitando o descarte de resíduos.