Associação entre risco de sarcopenia, estado nutricional e qualidade de vida em pacientes oncológicos em cuidados paliativos
Neoplasias; avaliação nutricional; qualidade de vida.
Os cuidados paliativos têm como foco melhorar a qualidade de vida de pacientes com doenças graves, incluindo o câncer avançado, por meio do alívio de sintomas e da abordagem integral do sofrimento. Nessa população, desnutrição e sarcopenia são condições frequentes e agravam a funcionalidade, os sintomas e o prognóstico, repercutindo diretamente na qualidade de vida. A nutrição tem papel fundamental nesse contexto, pois contribui para reduzir perdas musculares, melhorar a ingestão alimentar e oferecer maior conforto e bem-estar. Diante disso, o presente estudo tem por objetivo avaliar a associação entre risco de sarcopenia, estado nutricional e qualidade de vida em pacientes oncológicos em cuidados paliativos. Trata-se de um estudo transversal analítico realizado com 94 pacientes atendidos no Ambulatório de Cuidados Paliativos do IMIP. Foram incluídos indivíduos com 20 anos ou mais, em cuidados paliativos, com PPS ≥40% e capazes de responder aos instrumentos de pesquisa. Foram coletadas informações sociodemográficas e clínicas, além de realizada avaliação nutricional por meio da ASG-PPP, medidas antropométricas (IMC, circunferência do braço e panturrilha, prega cutânea tricipital, circunferência muscular do braço) e força de preensão manual. O risco de sarcopenia foi avaliado pelo questionário SARC-F, enquanto a qualidade de vida foi mensurada pelo EORTC QLQ-C15-PAL. Os dados foram analisados no software R, utilizando estatística descritiva e regressão logística múltipla. Os resultados mostraram que a amostra era predominantemente idosa (79%), masculina (57%), de baixa escolaridade e com renda entre 1 e 2 salários mínimos (76%). A maior parte apresentava tumores do trato gastrointestinal e próstata, e 63% tinham metástases. Em relação ao estado nutricional, observou-se elevada prevalência de desnutrição: 28% pelo IMC, 33% pela circunferência do braço e 37% pela circunferência muscular. A força de preensão manual estava reduzida em 83% dos participantes, e 44% apresentavam risco de sarcopenia pelo SARC-F. Pela ASG-PPP, 72% apresentaram algum grau de desnutrição. Quanto à qualidade de vida, os escores indicaram funcionalidade moderada e sintomas variáveis, com destaque para fadiga, dor e falta de apetite. Na análise multivariada, dois fatores clínicos mostraram associação significativa com melhor qualidade de vida: ausência de metástase e não ter realizado radioterapia prévia. Variáveis sociodemográficas, estado nutricional e risco de sarcopenia não permaneceram associados ao desfecho após ajuste. Os achados reforçam que o avanço da doença e o histórico de tratamento têm maior impacto na percepção de qualidade de vida do que características nutricionais isoladas, embora a desnutrição e a sarcopenia sejam prevalentes e clinicamente relevantes nesse público.