COMUNICAÇÃO NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA: o que revelam professores que ensinam matemática em classes com estudantes cegos?
Educação Inclusiva. Acessibilidade. Deficiência visual. Diálogo. Imaginação pedagógica. Narrativas docentes
A pesquisa objetivou compreender a comunicação na Educação Inclusiva a partir de narrativas de professores que ensinam matemática em classes com estudantes cegos. Para tanto, ancora-se no conceito de acessibilidade da Educação Inclusiva, e de diálogo e imaginação pedagógica da Educação Matemática Crítica. Os dados foram produzidos e coletados a partir de narrativas de três professores com experiência no ensino de matemática em classe comum com estudantes cegos, por meio de entrevistas episódicas e da análise, por eles, de três propostas de atividades geométricas. A produção de dados ocorreu remotamente em dois momentos, entre 2021 e 2022, no período da pandemia da Covid-19: narrativas de situações vividas em classe com estudantes cegos; e narrativas de situações imaginadas para classes com estudantes cego, com base nas atividades geométricas propostas. Para analisá-los utilizamos as categorias analíticas acessibilidade e diálogo. Os resultados revelam que as narrativas dos professores foram influenciadas por aspectos como a formação acadêmica, o contexto das aulas, o tempo que permanecem com os estudantes cegos e apoio institucional. Colocam em evidência também a preocupação dos professores em propiciar uma comunicação acessível aos estudantes cegos e favorecer interações dialógicas, embora nem sempre tenham explicitado como fazê-lo. As principais preocupações com a acessibilidade estão associadas ao uso de materiais concretos e adequados (dimensão instrumental); a um ensino acessível, igualitário e universal, à possibilidade de realizar experimentos e investigação (dimensão metodológica); ao apoio educacional (dimensão programática); ao medo e receio (dimensão atitudinal); bem como à oralidade e à escrita braille (dimensão comunicacional). O fato de essas preocupações ainda existirem e não serem contempladas em ações encaminhadas pelos professores nas situações apresentadas nos leva a conjecturar que ainda há barreiras no processo de inclusão de estudantes cegos nas aulas de matemática. No exercício da imaginação pedagógica, os professores apresentaram situações que poderiam, em potencial, favorecer o diálogo na perspectiva da Educação Matemática Crítica e algumas delas foram narradas pelos professores como situações vividas em classes com estudantes cegos e outras como situações imaginadas. Cabe destacar, no entanto, que esses resultados estão respaldados nas narrativas dos professores participantes e, dessa forma, a materialização de tais situações em classes inclusivas são objetos de pesquisas futuras.