Organização Mundial da Saúde frente à globalização: entendendo a influência de Organizações Não-Governamentais desde a virada do milênio
OMS. ONGs. Política Internacional. Process Tracing.
Surgindo como sucessora da Organização da Saúde da Liga das Nações, a Organização Mundial da Saúde (OMS) foi criada com um mandato muito mais robusto no enfrentamento a crises sanitárias pelo mundo (Lee, 2008a). Desde sua fundação em 1948, contudo, desafios diversos vêm ameaçando a centralidade e autoridade normativa da OMS na Governança Global em Saúde (Global Health Governance, a partir daqui referida como GHG) (Youde, 2013); junto de sucessos absolutos, como a celebrada erradicação da varíola, vieram também contestações quanto a real capacidade da organização se adaptar a novos panoramas (Huang, Meltzer; 2018).
Em resposta a esses questionamentos, diversas reformas e redirecionamentos no funcionamento da OMS foram reportadas ao longo das décadas. Em foco nesse trabalho, está o aumento do espaço para Organizações Internacionais Não-Governamentais (abreviadas no restante do texto como simplesmente ONGs) em decisões da agência; apesar de auxiliarem a Organização desde seu estabelecimento enquanto agência especializada da Organização das Nações Unidas (Executive Board, 1949).
Com a pergunta de pesquisa “Como a Organização Mundial da Saúde se tornou mais alinhada aos interesses de Organizações não-governamentais?”, é explorado o processo gradual que resultou na atual configuração da agência, vista por alguns como subordinada à interesses de ONGs (Huet; Paun, 2017) ou, no mínimo, responsivas em algum nível a suas demandas (Levich, 2018). Aqui, busca-se construir uma explicação que abarque desde as mudanças decorridas de ações conscientes de ONGs interessadas em expandirem sua relevância, até àquelas que são melhor entendidas como respostas naturais a um mundo mais globalizado.