Esporotricose humana na Paraíba: caracterização clínica-epidemiológica, identificação genômica e sensibilidade de isolados do clado patogênico Sporothrix.
Esporotricose. Sporothrix. Transmissão zoonótica. Nordeste brasileiro.
A esporotricose é uma micose subcutânea, causada por fungos do clado patogênico Sporothrix, de curso subagudo ou crônico, distribuída em todo o mundo, especialmente em regiões tropicais e subtropicais, e que no Brasil tem apresentado intensa expansão geográfica ao passo que a transmissão zoonótica se consolidou como a principal rota responsável por surtos nas áreas endêmicas. O trabalho tem como objetivo descrever as características sociodemográficas, clínicas e epidemiológicas dos casos de esporotricose humana na Paraíba, Nordeste do Brasil, diagnosticados no período de janeiro à março de 2018, identificar genotipicamente as espécies e determinar a sensibilidade in vitro aos principais antifúngicos disponíveis para o tratamento. Trata-se de um estudo prospectivo descritivo que incluiu 148 pacientes com esporotricose acompanhados no ambulatório de referência em doenças infecciosas e parasitárias de um hospital universitário do nordeste brasileiro. A maioria dos pacientes era do sexo feminino (59,4%). A idade dos pacientes variou de 1 a 85 anos. Declararam renda per capita de até um salário-mínimo 46 (31,1%) pacientes, com 135 (91,2%) relatando algum grau de escolaridade. Eram procedentes da capital do estado, João Pessoa, 113 (76,3%) pacientes. Relataram contato no domicílio com gatos doentes 110 (74,3%) pacientes. Metade desses relataram um contato não traumático com o felino. Foi relatado o contato domiciliar com cães por quatro (2,7%) dos pacientes. A forma linfocutânea representou 70,3% dos pacientes, a cutânea fixa 23,0% e oito (5,4%) pacientes apresentaram comprometimento ocular. Manifestações de hipersensibilidade aconteceram apenas em 2,7% dos pacientes com 1 paciente apresentado artrite reativa. Itraconazol foi prescrito para 90,5% dos pacientes. Sporothrix brasiliensis foi a espécie identificada em todos os 20 isolados submetidos à caracterização genética através do sequenciamento parcial do gene da calmodulina. Os testes de sensibilidade antifúngica demonstraram excelente eficácia in vitro do itraconazol e terbinafina, com apenas três isolados resistentes ao itraconazol e nenhum a terbinafina. A esporotricose humana na Paraíba apresenta-se com uma concentração dos casos na capital do estado, tem caráter zoonótico, pela transmissão felino-homem, afetando mais mulheres. Há um predomínio da forma linfocutânea, mas formas extra cutâneas como a ocular devem ser lembradas no contexto atual da esporotricose no estado, o qual se tornou endêmico. A identificação de S. brasiliensis em todos os isolados avaliados pode justificar a transmissão não traumática da esporotricose em percentual semelhante à transmissão traumática por mordedura e/ou arranhadura. A excelente atividade antifúngica in vitro do itraconazol permite mantê-lo como primeira escolha no tratamento da esporotricose.