ALTERAÇÕES LABORATORIAIS E HISTOPATOLÓGICAS RENAIS ASSOCIADAS À FEBRE CHIKUNGUNYA
Vírus Chikungunya; Febre Chikungunya; Injúria renal; Glomerulopatia; Doença renal crônica.
A febre Chikungunya (CHIK) foi detectada pela primeira vez no Brasil em 2014. Além de febre e dor articular, a CHIK pode apresentar-se com formas atípicas, incluindo manifestações renais. A injúria renal relacionada a CHIK tem prevalência extremamente variável a depender da população avaliada, acometendo de 0.6 a 69% dos pacientes. Entretanto, foi apenas descrita em fase aguda da infecção e ainda carece de melhor caracterização. Assim, o objetivo desse estudo foi avaliar a ocorrência de injúria renal e investigar a presença de antígeno ou RNA viral no tecido renal de pacientes afetados pela CHIK em diferentes estágios da infecção. Tratou-se de um estudo exploratório, conduzido entre 2016 e 2020. Dois grupos foram avaliados: o primeiro grupo foi composto por pacientes com lesão renal comprovada por biópsia estabelecida após CHIK, e o segundo grupo, pacientes com manifestações crônicas articulares pós-CHIK sem lesão renal conhecida. Marcadores de lesão renal foram investigados através da análise da creatinina sérica e exames urinários para detecção de hematúria e proteinúria, sendo indicada biópsia renal conforme protocolo habitual. Material viral foi analisado no tecido renal através de imunohistoquímica, PCR e microscopia eletrônica em tecido renal. Quinze pacientes com idade mediana de 32 anos tiveram injúria renal estabelecida entre 0.5 e 24 meses após CHIK. Não foram detectados antígenos ou RNA virais no tecido renal e os achados histopatológicos mais frequente foram podocitopatias. Alelos de alto risco para desenvolvimento de síndrome hemolítico urêmica e glomeruloesclerose focal e segmentar foram detectados em cinco dos sete pacientes com essas patologias testados para os respectivos genes. Houve progressão para doença renal crônica em 50% dos pacientes. Outros 114 pacientes sem lesão renal conhecida e com manifestações crônicas pós-CHIK foram avaliados quanto a marcadores de lesão renal de forma transversal. A média de idade foi 56.2 anos e o diagnóstico de CHIK havia ocorrido cerca de 35.6 meses antes da avaliação. A média de creatinina foi 0.9 mg/dl e de proteinúria71.5 ± 37.5 mg/dia. Hematúria foi detectada em um dos pacientes. Nenhum desses pacientes apresentou critérios para indicação de biópsia renal. Em conclusão, nossos achados revelam o potencial do CHIKV de desencadear lesões renais com diferentes graus de severidade. Entretanto, a hipótese de que o vírus pode persistir a longo prazo em tecido renal, nos parece improvável.