Revisão do estado de conhecimento do beijupirá Rachycentron canadum e o repovoamento na área marinha do Rio Grande do Norte, Brasil
Bibliometria, Pesca Artesanal, Etnoecologia, Conservação, Manejo de estoques pesqueiros.
O Beijupirá (Rachycentron canadum) é uma espécie de peixe marinho de importância global, fundamental para a pesca e a aquicultura. Embora tenha recebido considerável atenção científica nas últimas décadas, revisões anteriores careciam de uma análise quantitativa de contribuições e motivações para a pesquisa. Este estudo realiza a primeira análise global de desempenho de pesquisa sobre R. canadum por meio da cienciometria, revelando um total de 577 documentos publicados entre 1964 e 2023, provenientes de diversos países e fontes. Apesar dos esforços de pesquisa em todo o mundo, alguns países dominam a maioria dos estudos, com tópicos relacionados à piscicultura marinha sendo o foco dos artigos mais citados. Alguns países fortemente envolvidos na captura de beijupirá direcionam uma parte substancial de sua produção científica para fontes relacionadas à piscicultura. Curiosamente, países com pesca significativa de beijupirá apresentam pouca ou nenhuma pesquisa associada. O aumento nas taxas de publicação desde os anos 2000 está alinhado com o crescimento na produção da piscicultura, indicando sua proeminência como o principal impulsionador de pesquisa para R. canadum. Após a análise bibliométrica, a avaliação de um projeto de repovoamento no litoral do Rio Grande do Norte utilizando o beijupirá foi realizada. Com a capacitação e participação dos pescadores artesanais da região foi possível diferenciar nas capturas peixes selvagens e recapturados da atividade de repovoamento. As análises investigaram o impacto do repovoamento na estrutura populacional do beijupirá e as relações com os ambientes marinhos. Foi realizada a soltura de 48.728 exemplares na costa do Rio Grande do Norte, sendo identificada a recaptura de 1.332 espécimes, representando 2,73% do total repovoado. A captura pós-repovoamento mostrou um aumento na frequência de exemplares capturados, assim como tamanhos significativamente menores, indicando proporções de jovens superiores as observadas na área de estudo em períodos anteriores ao repovoamento. A espécie apresentou segregação de tamanhos em relação as profundidades e geomorfologia dos substratos, onde os exemplares maiores preferem áreas mais profundas e substratos mais consolidados. Relações peso comprimento entre selvagens e repovoados demonstraram diferenças entre o crescimento em peso e comprimento para os dois grupos, com repovoados apresentando características próximas a isometria, embora as taxas de captura possam aumentar pós-repovoamento, a maioria dos beijupirás foram capturados ainda imaturos. O estudo destaca a necessidade de estratégias de manejo antes e após o repovoamento, incorporando contribuição dos pescadores em campanhas de conscientização. Além disso, destaca-se o papel do Conhecimento Ecológico Local no gerenciamento do repovoamento e pesca.