ANÁLISE PALEOAMBIENTAL DA TRANSIÇÃO APTIANO-ALBIANO COM BASE EM FORAMINÍFEROS E GEOQUÍMICA DA FORMAÇÃO ROMUALDO, BACIA DO ARARIPE, NE DO BRASIL
Evento Anóxico Oceânico (OAE-1b); Foraminíferos; Paleoambiente; Geoquímica Multi-elementar; Formação Romualdo
A transição Aptiano–Albiano (113Ma) representa um período crítico no Cretáceo Inferior, marcado por perturbações nos ciclos biogeoquímicos, instabilidades climáticas e episódios recorrentes de anoxia oceânica em escala global, dentre os quais se destaca o Evento Anóxico Oceânico 1b (OAE-1b). Este estudo tem como objetivo investigar a expressão local do subevento Kilian, associado ao OAE-1b, na Formação Romualdo, Bacia do Araripe (NE do Brasil), por meio da integração de dados micropaleontológicos (foraminíferos) e geoquímicos (inorgânica multielementar e isótopos estáveis). Foram analisadas duas seções estratigráficas representativas da formação nas localidades de Santo Antônio (porção centro-sul da bacia, Exu–PE) e Serra do Inácio (porção sudoeste da bacia, Ouricuri–PE). Na seção Santo Antônio, a assembleia foraminífera a assembleia foraminífera é composta por 19 espécies bentônicos (predomínio de Conorboides minutíssima, Quinqueloculina sp. Patellina infracretacea). e 9 planctônicas (Pseudoguembelitria sp. e Liliputianella sp.) apresenta baixa diversidade e alta dominância de Miliolídeos especialmente na base do perfil. Esses padrões ocorrem em correlação com uma excursão negativa nos valores de δ¹³C (-6‰), razão Sr/Ba elevada (>100), e razões V/Cr acima de 4,25, sugerindo condições anóxicas, hipersalinas em um ambiente epicontinental restrito. A transição para os níveis superiores desta seção evidencia um processo de recuperação ecológica, com redução dos índices de salinidade e anoxia, além da entrada de táxons indicativos de recolonização, como Conorboides minutissima, e aumento na diversidade da associação foraminífera. Em conjunto, a seção Serra do Inácio, registra a atuação deste sistema epicontinental restrito e estratificado, marcado por episódios recorrentes de anoxia, salinização intensa e aporte continental intermitente. Apresenta uma associação menos diversa 6 espécies bentônicas (predomínio de Spirosigmoilina sp., Spirillina mínima, Quinqueloculina sp, Conorboides minutíssima) e 4 planctônicas foraminíferos planctônicos (Liliputianella sp. Microhedbergella sp., Gubkinella sp., M. Miniglobularis) associados a equinodermatas (microcrinoides, ofiuroides e ouriços irregulares), registra um pulso transgressivo sobre um ambiente previamente confinado. A presença de táxons bioestratigráficos como Microhedbergella miniglobularis e M. renilaevis corrobora a atribuição cronoestratigráfica da unidade à transição Aptiano–Albiano. A resposta foraminífera ao evento inclui colapsos ecológicos localizados, seguidos de recuperação parcial. Os dados micropaleontológicos e geoquímicos integrados permitem reconhecer na Formação Romualdo uma assinatura clara do OAE-1b, compatível com o subevento Kilian em sistemas marinhos restritos do Cretáceo.