MORFOLOGIA DENTÁRIA E PADRÕES DE CRESCIMENTO DA DENTINA EM MOSASSAURÓIDES (MOSASAUROIDEA, SQUAMATA) DA ANTÁRTICA E DO BRASIL
Mosassauro; Mosasaurinae; Halisaurinae
O grupo Mosasauroidea representa uma linhagem de répteis aquáticos que prosperou nos oceanos durante o Cretáceo Superior, dominando esses ambientes por cerca de 25 milhões de anos antes de sua extinção no final do período, durante a transição Cretáceo-Paleógeno. Dentro desse grupo, destacam-se três linhagens principais: Halisaurinae, Russelosaurinae e Mosasaurinae. Inicialmente, os ‘russelossauríneos’ eram predominantes, mas, a partir do Campaniano, os mosassauríneos se tornaram o grupo dominante, persistindo até o Maastrichtiano. Neste estudo, foram analisados espécimes de dentes de mosassauróides provenientes de duas unidades geológicas distintas: a Bacia da Paraíba, no Brasil, e a Formação López de Bertodano, localizada na Bacia de James Ross, na Antártica. Para isso, empregaram-se métodos multivariados para comparar a morfologia dos dentes e de técnicas paleohistológicas com objetivo de avaliar padrões morfológicos em secções transversais, além de inferir características relacionadas ao crescimento da dentina. Os padrões faunísticos observados nas bacias estudadas são consistentes com outras unidades geológicas de mesmo intervalo temporal em diferentes partes do mundo. Em ambas as regiões, os mosassauríneos são mais numerosos que os russelossauríneos. Na Bacia da Paraíba, embora trabalhos prévios tenham registrado alguns espécimes de russelossauríneos, os exemplares descritos neste estudo pertencem exclusivamente ao grupo Mosasaurinae. Estes dentes exibem uma diversidade morfológica significativa, com similaridades a gêneros como Eremiasaurus, Mosasaurus, Prognathodon, Thalassotitan e Carinodens. Uma possível ocorrência inédita da espécie Carinodens minalmar no Brasil também foi identificada. A variabilidade morfológica dos dentes sugere uma fauna complexa e bem estratificada nessa região. Por outro lado, a Bacia de James Ross apresenta uma composição diferente. Embora os russelossauríneos sejam abundantes, os mosassauríneos estão presentes em maior quantidade. A maior proporção de russelossauríneos nesta localidade pode estar associada a uma preferência por ambientes de latitudes mais elevadas. Os dentes dessa região foram classificados em dois grupos principais: Russelosaurinae e Halisaurinae. A presença de Halisaurinae na Antártica é inédita e foi discutida neste trabalho. Além disso, os dentes de russelossauríneos exibem uma ampla diversidade morfológica, indicando uma alta diversidade de espécies pertencentes a este táxon na região. A aplicação de técnicas paleohistológicas permitiu uma análise detalhada das seccoes transversais dos dentes, revelando estruturas de valor taxonomico, como linhas de crescimento continuo e diario, presentes na dentina dos amniotas. No caso dos especimes da Bacia da Paraiba, foi possivel determinar que a formacao da dentina variou entre 220 e 266 dias. Alem disso, foi observada a presenca de uma linha de Contorno de Owen em um dos especimes, provavelmente resultante de eventos de estresse fisiologico. Esses resultados ressaltam a importancia de integrar metodos morfologicos e paleohistologicos para a analise de fosseis, ampliando o entendimento sobre a diversidade e os padroes de crescimento de mosassauroides, assim como sua distribuicao em diferentes regioes durante o Cretaceo Superior.