OS DESCENDENTES DO DRAGÃO MOSTRAM A FACE: DIPLOMACIA DA SAÚDE CHINESA E NARRATIVA SOBRE HUMILHAÇÃO NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DURANTE OS GOVERNOS DE HU JINTAO E XI JINPING
China, Século da Humilhação, emoções estatais, Diplomacia Global de Saúde.
Considerando o papel das narrativas históricas e das emoções estatais nas relações produzidas pelas sociedades no ambiente internacional, esta pesquisa investiga como os danos à honra e ao status chineses ocorridos durante o Século da Humilhação (1839–1949) são apresentados pelo governo do Partido Comunista Chinês como motivadores de sua agenda diplomática internacional. A análise concentra-se nos governos de Hu Jintao e Xi Jinping, abrangendo o período de 2000 a 2024, com ênfase no papel da Diplomacia Global de Saúde nesse processo. Primeiramente, explora-se a relevância da moral e da honra na cultura chinesa — representadas pelo conceito de “face” (面子, miànzi) — e como essas dimensões foram abaladas pelas práticas estrangeiras durante o Século da Humilhação, período em que a civilização chinesa sofreu graves danos territoriais e humanos, além da perda de soberania e do tratamento desigual frente à reputação que o Império considerava perante os demais Estados e civilizações. Esses elementos iniciais, detalhados nos primeiros capítulos submetidos à qualificação, fundamentam a discussão posterior, que aborda como a China compreende e pratica a diplomacia de saúde (especialmente entre as décadas de 1950 e 1990) e a maneira pela qual a epidemia de HIV/AIDS significou um ponto de mutação em sua governança tanto internamente quanto em sua política externa. No capítulo final, analisa-se a atuação dos governos Hu e Xi na diplomacia global de saúde, bem como os impactos da pandemia de Covid-19, que reacenderam traumas e desafios à “face” chinesa. Metodologicamente, adotam-se a Análise de Discurso e a Análise de Conteúdo, baseadas em discursos de lideranças governamentais, produções oficiais do governo chinês, reportagens e bibliografia especializada.