As comportas da culpa: como as narrativas dos incumbentes moldam a atribuição de responsabilidade política no Brasil
Palavras-chave: Desastres naturais, Blame Avoidance, Accounts, Experimento Conjoint, Inferência Causal.
À medida que desastres naturais se tornam mais severos no mundo, líderes democraticamente eleitos são rotineiramente culpados por suas consequências igualmente desastrosas. Considerando que percepções de culpa são mais informativas do que percepções de crédito para escolhas eleitorais, tentativas de se desviar da culpa dominam os pensamentos de um incumbente. Entre várias estratégias, incumbentes podem apelar à opinião pública diretamente, desenvolvendo estratégias de comunicação conhecidas como accounts ou presentations para moldar percepções de risco evitável (i.e. quanta culpa existe para se atribuir) e responsabilidade direta (i.e. quão conectado ao problema o incumbente está). Accounts funcionam? Se sim, sob quais condições? Esta tese conecta estudos de blame avoidance e de blame attribution. Empiricamente, eu utilizo um experimento de survey do tipo conjoint que expõe eleitores brasileiros a um desastre natural comum. Eu manipulo 10 diferentes características de incumbentes, uma das quais é a manipulação do mediador de interesse, me permitindo indiretamente testar por efeitos de mediação. Utilizando apoio ao incumbent como meu outcome de interesse, o qual defino como uma combinação de percepções de culpa e intenção de voto, eu testo os efeitos de três accounts (acceptance, deflection, benchmarking) diretamente, assim como seus efeitos condicionais a outras variáveis, das quais ressalto duas: o perfil de gastos públicos do incumbente e o número de identidades compartilhadas entre eleitor e incumbente. Eu testo um conjunto de de efeitos principais e moderados, encontrando que, de fato, accounts possuem efeitos sobre a opinião pública. Encontro evidência mista de moderação e nenhuma evidência de mediação. Em geral, uma account de acceptance é imune a contextos de baixa similaridade identitária e a diferentes perfis de gastos públicos. Benchmarking e deflection são mais suscetíveis a moderação. Também encontro efeitos heterogêneos substanciais entre accounts, interações que incluem accounts e o nível de escolaridade dos eleitores, com aqueles de maior escolaridade preferindo accounts de benchmarking e se importando profundamente com afinidade política.