IMPLANTACAO DE UM PARQUE EOLICO EM BUIQUE, PERNAMBUCO: LIMITES AMBIENTAIS E SOCIETARIOS NA CRISE DO CAPITAL
Crise. Meio Ambiente. Transição energética. Catimbau. Kapinawá.
Desde a segunda metade do século passado a pauta ambiental tem se estabelecido gradualmente em cada vez mais espaços na sociedade. A constatação de que há um limite objetivo para a capacidade de suporte do planeta, ainda que mediada como recurso pelos avanços tecnológicos, tem ganhado espaço diante da irrefutabilidade das mudanças climáticas decorrentes da devastação de ecossistemas e da poluição. A transição energética tem sido propagandeada como o principal front de combate ao colapso ambiental que se anuncia. Setores da indústria e do capital financeiro, sobretudo, exercem pressão nos governos para que a transição energética seja subsidiada, via Estado, pelos contribuintes, abrindo assim um imenso novo nicho de mercado. A expansão das fronteiras desse mercado tem se dado em territórios historicamente identificados como pobres e carentes de condições para o desenvolvimento, como as regiões semiáridas e desérticas. No Brasil, o Nordeste é reconhecido pelos estudos de potencial energético eólico e solar como a região mais propícia à exploração por essas tecnologias. Casando com a ideia de vazio demográfico, de um “não-lugar” historicamente construído pelas oligarquias locais interessadas na manutenção dos seus privilégios, o quadro é apresentado por estes como natural e oportuno para receber os tais empreendimentos de energia renovável. Este trabalho apresenta uma pesquisa de mestrado a respeito dos processos atuantes na pretensa implantação de um parque eólico nos municípios de Buíque e Tupanatinga, sertão de Pernambuco, sejam estes anteriores ou instaurados a partir do anúncio do projeto, partindo de uma leitura do discurso ambientalista mobilizado pelas empresas interessadas, governos e sociedade civil ao longo das últimas décadas. Para tanto, a dissertação está divida em três capítulos, onde o primeiro e o segundo estão conectados não por uma continuidade, mas por um espelhamento, e o terceiro culmina na apresentação de uma totalidade reclamada e dos fundamentos da crise da reprodução social capitalista. O primeiro estabelece um nexo cronológico de como a questão ambiental é acionada para a manutenção do status quo, onde a denúncia da crise ambiental - um limite externo, absoluto quanto à finitude do planeta - opera como a forma de algo que tem a crise do capital como essência, passando pela questão energética, as renováveis e suas dinâmicas no nordeste brasileiro e as mobilizações e a resistência das populações atingidas e/ou assediadas por esses empreendimentos; o segundo capítulo retoma o sentido da questão ambiental e analisa seu discurso problematizando-o e abrindo caminho para o terceiro que, à luz da teoria crítica, aponta a inversão do primeiro movimento, onde a crise do capital (interna) esconde o colapso objetivo do mundo conhecido (crise externa). Por fim, a pesquisa aponta para a contradição da transição energética que visa atender as demandas do capital e suas crises, partindo de uma concepção ambientalista/ecologista de mundo ligada ontologicamente ao sistema produtor de mercadorias.