Senso de Coerência Materno e Práticas Alimentares do Lactente
Senso de coerência, Amamentação, Alimentação complementar, Práticas
Alimentares
Os primeiros anos de vida de uma criança, especialmente os dois primeiros, são caracterizados
por um crescimento acelerado e consideráveis avanços no processo de desenvolvimento global.
As práticas alimentares infantis, como o aleitamento e a introdução adequada e oportuna de
alimentos complementares, são fundamentais para a saúde infantil. Essa fase se configura como
um período que envolve processos complexos, influenciados por diversos fatores socioculturais,
econômicos e comportamentais, em especial referentes à figura materna. As abordagens
psicossociais têm sido aplicadas na compreensão do processo de saúde-doença, como o Senso de
Coerência (SOC), que é um dos construtos da Teoria Salutogênica de Antonovsky. Para tentar
compreender quais fatores podem favorecer a adoção de práticas alimentares infantis adequadas,
surge a necessidade de entender a alimentação infantil à luz da salutogênese. A partir deste
contexto, foi formulada a hipótese de que os filhos de mães com forte Senso de Coerência
apresentam melhores práticas alimentares, em especial o aleitamento materno continuado,
quando comparados com filhos de mães com fraco Senso de Coerência. Portanto, este estudo
teve como objetivo analisar a associação do SOC materno com as práticas alimentares dos
lactentes. Foi realizado um estudo transversal, descritivo e analítico com 94 mães com filhos
entre 12 meses e 23 meses e 29 dias, em um território de saúde no município de Paulista/PE. A
principal variável dependente foi a prática do aleitamento materno continuado, e a principal
variável independente foi o Senso de Coerência materno. As demais variáveis independentes
consistiram em fatores biológicos, socioeconômicos e demográficos. Foram empregadas análises
de regressão logística binária para identificar fatores associados aos desfechos de interesse.
Adotou-se o valor de $p < 0,05$ como nível de significância estatística. O alto Senso de
Coerência materno foi associado à introdução alimentar na idade adequada e à não oferta de telas
durante as refeições ($p < 0,05$). Contrariando a hipótese, o baixo Senso de Coerência materno
apresentou associação com a prática do aleitamento materno continuado ($p < 0,05$), o que
provavelmente se deveu ao suporte em saúde prestado na atenção primária à população estudada.
Houve associação positiva do não uso de mamadeira com a manutenção do aleitamento materno
(OR = 7,23; IC95%: 2,03 – 25,6; $p = 0,002$), além de o aleitamento materno continuado estar
associado ao menor consumo de alimentos ultraprocessados ($p = 0,013$). Mães primíparas
tiveram mais chances de manter o aleitamento materno continuado em comparação àquelas com
dois ou mais filhos (OR = 3,80; IC95%: 1,28–11,27; $p = 0,016$). Conclui-se que a hipótese do
estudo foi parcialmente refutada no que se refere ao aleitamento continuado e ao SOC, o que
provavelmente se deveu à homogeneidade e ao nível educacional da população estudada. No
entanto, a hipótese do estudo foi aceita no que concerne à influência do SOC materno em duas
práticas alimentares.