A LICENCIATURA É O LUGAR ONDE A GENTE SE ENCONTRA COMO MULHER: os discursos sobre as diferenças de gênero entre mulheres licenciandas em matemática numa instituição de ensino superior do Sertão Pernambucano
Gênero; Discurso Ideológico; Falologocentrismo; Licenciandas em Matemática; Análise do Discurso.
Nesta pesquisa, partiu-se da ideia de que os conceitos de gênero direcionam os olhares sobre as relações e perspectivas em torno do ensino e da aprendizagem em um curso de licenciatura em matemática. Frente a esse entendimento e às contribuições trazidas pela epistemologia feminista e pósestruturalismo, propôs-se uma leitura sobre os conceitos e/ou sentidos de gênero presentes nos discursos de discentes de licenciatura em matemática. Como objetivo geral pretendeu-se analisar os conceitos de gênero presentes nas falas de mulheres licenciandas em matemática entre o 6° e o 8° período numa faculdade privada do Sertão do estado de Pernambuco. A investigação teve caráter qualitativo apoiado no referencial teórico-metodológico da Análise do Discurso proposta por Michel Pêcheux e ocorreu através da observação direta e entrevistas semi-estruturadas realizadas com dez mulheres discentes. Por intermédio desse percurso metodológico buscou-se acessar o entendimento sobre a forma como as assimetrias de gênero interferem nas singularidades e perspectivas individuais das licenciandas, assim como, em seus trajetos profissionais. Como principais resultados, percebeu-se que, naquele contexto, a matemática era vista como um campo de saber-poderdesejo naturalmente masculino. Essa compreensão expressa o modo como os saberes-poderes-desejos, próprios ao falologocentrismo, atravessam os sentidos de gênero que constituem a materialidade do poder e a própria afetividade que mobiliza, perpassa e molda as narrativas e as vidas das licenciandas. Os argumentos usados pelas licenciandas têm caráter ideológico e reproduzem a ideia de uma natural capacidade masculina aos saberespoderes da matemática em discursos que se apoiam em “razões” inscritas no bios(somatocentricidade) e/ou na ideia de natureza.Nesta perspectiva, a menor presença de mulheres no curso de matemática seria a comprovação de uma dificuldade natural à disciplina e ao próprio curso.Os dados coletados por intermédio de entrevistas realizadas em profundidade nos mostram práticas e discursos que promovem o eclipsamento e as subalternizações dos saberespoderes-desejos das mulheres licenciandas em matemática na instituição privada de ensino superior do sertão pernambucano. São dispositivos de silenciamento que se imprimem no ambiente acadêmico e revelam o quanto as mulheres ainda são afetadas por linhas de força que atravessam seus corpos, afetividades e emoções em experiências de preconceito, violência e invisibilização dentro e fora da universidade. Por outro lado, pode-se perceber que a presença dessas mulheres na licenciatura em matemática, sendo este um espaço de saberes-poderes-desejos hegemonicamente masculinos, é um gesto de subversão, de luta e de resistência aos agenciamentos ideológicos. Por tudo isso, destaca-se a importância de políticas de gênero que incidam a favor da desconstrução dos interdiscursos falologocêntrico e somatocêntrico, revelando as razões sociais, políticas e históricas dessa maquinaria de dispositivos que visam destituir os saberes-poderes-desejos de jovens mulheres discentes