REDAÇÕES COMO INSTRUMENTO DE COMBATE À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER: UMA ANÁLISE DA PRODUÇÃO TEXTUAL DE ESTUDANTES VENCEDORES DO PRÊMIO NAÍDE TEODÓSIO
Educação. Violência Doméstica. Discurso. Gênero.
Em uma sociedade cujas relações de poder estão concentradas nas mãos de poucos e cujas fórmulas organizacionais são bem definidas, as diferenças são determinantes para que o indivíduo se destaque e alcance o sucesso tão prometido e sonhado. Mas, isso ocorrerá em ritmos e valores bem definidos, se forem consideradas algumas categorias, em especial a de gênero. Ser mulher em uma estrutura alicerçada a partir de valores que exaltam masculinidades e suas formas de manifestação de força e de controle as coloca em posição de desvantagem, antes mesmo do início da hierarquização social, em que o uso da força física é manifesto desde o lar, aos espaços públicos. Quando as manifestações de violência geram vítimas, nas variadas esferas sociais em uma escala como a que se registrou no Brasil e em particular, em Pernambuco nas últimas décadas do século XX, exigindo que o estado desenvolvesse ações de enfrentamento e de abrigamento para as pernambucanas agredidas, surgem propostas como o Prêmio Naíde Teodósio de estudos de gênero, objetivando engajar algumas secretarias de estado numa proposta de debate e produção escrita que envolva adolescentes e jovens, tomando a educação como ponto de partida e de chegada. Na perspectiva de investigar como se desenvolveu a produção de redações de estudantes da rede estadual de ensino e sua repercussão na rotina escolar, e, por conseguinte, a eficácia dessa ação como política pública para redução do índice de violência doméstica contra a mulher em Pernambuco, esta investigação fundamentou-se na Análise de discurso de linha francesa como metodologia; a teoria apoiou-se nos estudos de gênero, enquanto categoria de pesquisa. Diante disso, foram observadas as ideologias que permearam as redações das estudantes e as memórias evocadas pelos seus respectivos orientadores que contribuíram para revelar se houve ou não mudanças na percepção das autoras dos textos sobre o lugar que a mulher ocupa na sociedade e seus desafios por igualdade de direitos em razão da participação naquele concurso de textos, voltado para discussão sobre as relações de gênero. Como resultado tem-se que a premiação levou às escolas a uma euforia pontual e singular, o que infelizmente não repercutiu na rotina daquelas unidades de ensino e tampouco evidenciaram mudanças nas práticas dos docentes ou no engajamento dos estudantes, exceto quando tal comprometimento já existia anteriormente, como no caso das estudantes premiadas.