Sonhos de uma vida longa: estética, temporalidade e poder nas imaginações do porvir
Longevidade; imortalidade; governamentalidade; futuro; estética.
De que modo estamos sonhando com o prolongamento de nossas existências? Partindo de uma perspectiva genealógica, este trabalho se propõe a realizar um inventário de sonhos de futuro que teriam no seu cerne a conquista da vida longa, buscando investigar, a partir desses sonhos, os deslocamentos engendrados no nosso presente. Inspirada pelo gesto das montagens de Benjamin, pela escrita das imagens textuais de Foucault e tomando emprestadas suas ferramentas analíticas, procurei identificar, nos mosaicos da atualidade e da modernidade, pequenas peças que compunham o todo de uma imaginação configurada a partir de certas condições de possibilidade, certas condições de percepção. Minha hipótese é a de que existe uma relação intrínseca entre temporalidade e saberes-poderes que coloca em deslocamento as soluções de permanência, ou mesmo os sonhos de imortalidade na sociedade ocidental, ganhando corpo nas imaginações dominantes não apenas literárias, mas políticas, sociais e de projetos civilizatórios, tornando-se, inclusive, peça fundamental na instalação das governamentalidades de cada estrato histórico. O que se tramam neste texto são as possíveis articulações que encontramos entre vida, morte, poder, temporalidade e as estéticas dos sonhos de futuro, pensando, com Walter Benjamin, a estética dos sonhos de porvir encarnada na materialidade do mundo das coisas.