A PAISAGEM CULTURAL DO CONJUNTO MODERNO DA PAMPULHA-MG, A PARTIR DA PAISAGEM SOCIAL DE GILBERTO FREYRE
Paisagem Cultural; Arquitetura moderna; Conjunto Moderno da Pampulha; Paisagem Social; Gilberto Freyre.
Esta tese busca discutir o processo de assimilação e operacionalização da categoria paisagem na esfera institucional do patrimônio cultural brasileiro tendo como contraponto o conceito de paisagem social do sociólogo Gilberto Freyre. Tem como objeto empírico a Paisagem Cultural do Conjunto Moderno da Pampulha, em Belo Horizonte (MG). É uma noção de paisagem construída a partir de um discurso oficial, que combinava os anseios da política nacionalista com o movimento modernista que ocorreu no Brasil no início do século XX. A origem da Pampulha, reforça o discurso de modernidade e de criação de uma nação em que a arquitetura simbolizava o poder político, legitimado por um conjunto de ações incluía a criação do Iphan para a proteção do patrimônio cultural brasileiro (Decreto-Lei n°25 de 1937). Dentro desta perspectiva, ressalta-se a participação intelectual de um grupo pequeno da sociedade, representantes da elite cultural, especialmente, de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais que, por consequência, direcionou a valorização do patrimônio brasileiro para bens que referenciavam o barroco mineiro e a arquitetura modernista vigente. Neste contexto, em Pernambuco, o sociólogo Gilberto Freyre cria um movimento regionalista, que ressalta os atributos da região Nordeste redimensionando a discussão da identidade brasileira. O Movimento Regionalista, tido como uma corrente do modernismo, preconizou a valorização da arquitetura regional e de elementos da natureza, especialmente a paisagem. Freyre cria em seu discurso uma relação intrínseca da paisagem com a urbanização e processos de desigualdade, no Brasil. Essa relação, pode-se dizer, expressa um pensamento de paisagem que ele desenvolve desde a sua infância e atinge o ápice na criação do conceito de Paisagem Social, na década de 1930. A Paisagem Social freyriana, objeto teórico-conceitual desta pesquisa, encontra na Pampulha de Juscelino Kubitschek e Oscar Niemeyer, o material para uma reflexão sobre a paisagem cultural brasileira como objeto que ultrapassa a dimensão da natureza e atinge aspectos estéticos, sentimentais, perceptivos, de vivência cotidiana e das experiências. Procuramos demonstrar, ao longo da pesquisa que a consciência de paisagem que Freyre adquire ao longo de sua vida e desagua na Paisagem Social, pode ser debatido e relacionado ao pensamento que a filosofia da paisagem incorpora, tornando-se uma lente para a leitura da paisagem cultural brasileira. Analisamos através da crítica-reflexiva parte da obra do sociólogo, bem como documentos e pesquisas sobre a origem e patrimonialização da Pampulha, desde o tombamento federal da Igreja de São Francisco (1947), os tombamentos: estadual (1984/2003), municipal (2003) e federal (1994) do Conjunto e o reconhecimento como patrimônio cultural mundial (2016). Deverão ser consultados técnicos e as atas do Conselho de Cultura do Iphan. Acredita-se que a Paisagem Social freyriana pode questionar em vários sentidos a paisagem cultural brasileira.