SONHO, CORPO E ÊXTASE: ELABORAÇÕES DO DIVINO NAS OBRAS DE HILDA HILST E LENILDE FREITAS
Hilda Hilst; Lenilde Freitas; Literatura e religião; Literatura brasileira.
Nesta tese, é realizado um estudo sobre o tema do divino nas obras de Lenilde Freitas e Hilda Hilst em três âmbitos principais: o sonho, o corpo e o êxtase. Em relação ao sonho, são analisados aspectos próprios da atividade onírica, como o torpor e a insônia, e do sonho como projeto. O conceito de sombra, de Carl Jung, é aproximado das personificações das identidades fragmentadas do sujeito contemporâneo no texto literário. Discute-se, também, a volumosa nomeação do divino, bem como a composição das imagens relativas ao corpo divino, e suas implicações na capacidade da linguagem de dizer o absoluto. As sensações físicas e a atuação da passagem do tempo no corpo são consideradas sob a ótica do acúmulo de significados que isso provoca, assim como a noção de apartamento implícita na obscenidade. Da tentativa de comunhão com o divino, são analisadas analogias com a gravidez e com o canibalismo e a teofagia, resultando em uma poeteofagia. Sobre o êxtase, é examinada a mobilidade do espírito e sua interação com o corpo, ressignificados na literatura, que também contempla um êxtase cotidiano. A alteração dos sentidos e o consequente refazimento de ideias consentidas se vinculam às experiências da embriaguez e da loucura, vistas como vias de acesso ao conhecimento. E os procedimentos formais usados para se elaborar o divino na literatura encontram eco na imagem da circularidade, que permite uma acentuada abertura na formulação de um tema que desafia os limites da palavra. Os textos de ambas as autoras dialogam entre si e com outros autores da tradição literária, como San Juan de la Cruz, Teresa D’Ávila, Fernando Pessoa e Vladimir Nabokov, e teóricos, como Nietzsche, Kierkegaard, Michel Serres, Gaston Bachelard, Octavio Paz,George Bataille, Paul Valéry e Gilbert Rouget.