QUANDO SE FALA DE SER MULHER, DE QUEM SE ESTÁ FALANDO? UMA ANÁLISE SOB A ÓTICA DA AVALIATIVIDADE
Sistema de Avaliatividade; Atitude; Gradação; ser mulher; Folha de S. Paulo; 08 de março.
O presente trabalho tem como intuito responder ao seguinte questionamento: Como as publicações da Folha de S. Paulo representam, em termos avaliativos, ser mulher entre os séculos XX e XXI? Focamos, para isso, nos textos publicados pela mídia jornalística, considerando os significados (re)construídos através dos elementos léxico-gramaticais e semânticos-discursivos, quando do aparecimento de marcas discursivizadas que apontam para ser mulher, entre fronteiras ou acessos estabelecidos às consciências coletivas no uso da linguagem. Apoiamo-nos no Sistema de Avaliatividade (SA) ou Appraisal para Martin e White (2005)que estáassentado no domínio mais amplo da Linguística Sistêmico-Funcional (LSF), pressuposto teórico de Halliday (2004). As análises das escolhas léxico-gramaticais com reverberação na semântica do discurso consideraram, nos 15 (quinze) textos analisados, duas grandes regiões ou domínios interacionais “Atitude” e “Gradação”, a partir das esferas “Política” e “Economia”, recorrendo às publicações do 08 de março, Dia Internacional da Mulher. A pesquisa assume um viés qualitativo, não apenas em virtude da escolha do próprio material de análise, mas também por contemplar sentidos possíveis que emergem através do olhar do analista, cabendo, no entanto, aos dados quantitativos serem auxiliares à compreensão do objeto-alvo. A partir das duas macrotemáticas selecionadas, foi identificado o caráter de “Apreciação” como o de maior relevância, seguido por “Julgamento” e só, então, pelo “Afeto”. As três categorizações são complementadas e estão apoiadas, por vezes, cemelementos de “Gradação”, tendo a “Força” como destaque. Os termos apreciativos e afetivos ganharam uma visão mais positiva ou afirmativa dentre as ocorrências, contrastando com a balança do julgamento que evidenciou uma ótica mais negativa. O estudo empreendido, a partir desse traçado, mostrou que, em um cenário de meio século, ser mulher, apesar de haver algum reconhecimento de sua importância e valor, é lidar, ainda, com desafios em realidades cheias de obstáculos e desigualdades; ser mulher é também buscar atravessar a dominação, as restrições e, por vezes, o lugar de estagnação em que é posicionada; é estar em defesa da equidade. Ser mulher é empenhar-se em descontruir o já instituído e formatado nos campos sociais, pois agentes em uma coletividade a pleitear (re)significações e a quebra do jugo.