FONOLOGIA SEGMENTAL E SUPRASSEGMENTAL DO NUTAJENSU (SARARÉ) - NAMBIKWARA DO SUL
Línguas indígenas brasileiras; Família Nambikwara; Nutajensu; Sararé; Análise Fonológica
Neste estudo, nós apresentamos a descrição da fonologia segmental e suprassegmental do Nutajensu, também conhecido como Sararé, uma língua indígena do Brasil, que pertence ao ramo sul da família linguística Nambikwara. No Capítulo I, fornecemos informações etnográficas relevantes sobre o povo Nutajensu e a posição de sua língua dentro da família linguística Nambikwara. No Capítulo II, descrevemos a fonologia segmental da língua Nutajensu. É uma característica das línguas Nambikwara apresentar um número de contraste vocálico (bem) maior do que o das consoantes. Essa modelagem tipológica infrequente do sistema de sons também ocorre em Nutajensu, onde encontramos apenas 7 consoantes fonêmicas, /t, n, k, l, s, h, ʔ/, ao lado de 18 fonemas vocálicos, dos quais as 5 vogais orais /i, u, e, o, a/ contrastam para creaky voice assim como para nasalidade, com exceção de /o/, que nunca é nasalizado contrastivamente. As 4 vogais nasais também contrastam para creaky voice. Quanto aos glides /j, w/, optamos por derivar esses sons de vogais lexicais altas. Isso porque as sequências consistindo de uma vogal mais uma vogal alta sempre ocorrem na superfície como ditongos (com algumas exceções sistemáticas), devido ao fato de a vogal alta não carregar o acento. Assim, consideramos os glides como os correspondentes fonéticos de vogais altas lexicais silabificadas na margem da sílaba. No capítulo III, fazemos um inventário dos processos fonológicos de Nutajensu. Identificamos uma série de processos que afetam consoantes e vogais em posições específicas no primeiro ciclo da silabificação da estrutura silábica estabelecida no nível da palavra fonológica: vozeamento de oclusivas no ataque silábico, assimilação de ponto de articulação e pré-oralização de consoantes nasais na coda silábica, fortalecimento do glide em posição inicial de sílaba, aspiração de consoantes, alongamento de vogal em sílabas abertas tônicas, além de outros processos desencadeados pelo contato segmental, como nasalização regressiva de vogais átonas, harmonia vocálica, laringalização assimilatória de vogais, monotongação, coalescência consonantal e deleção de vogal em sandhi interno e externo. No capítulo IV estudamos o papel do acento e do tom e concluímos que Nutajensu possui um sistema prosódico misto, no qual acento e tom são parcialmente independentes. Nesse aspecto, a língua se alinha com a maioria das outras línguas Nambikwara, como as línguas Nambikwara do Norte Latundê (TELLES, 2002), Mamaindê (EBERHARD, 2009) e Negarotê (BRAGA, 2017), e a língua do Sul Nambikwara do Campo (COSTA, 2020). A posição do acento é previsível para palavras de conteúdo lexical com base nos parâmetros do peso da sílaba, da categoria lexical e da posição da sílaba dentro da raiz lexical. Ao contrário disso, os morfemas gramaticais devem ser marcados lexicamente por serem portadores de acento. O acento nos morfemas gramaticais sempre surge como secundário no nível da palavra fonológica. Identificamos dois tons básicos, Alto e Baixo, que podem ser combinados para criar tons de contorno, apenas em sílabas fechadas. Os tons de nível H e L, bem como os tons de contorno HL e LH, são contrastantes em raízes nominais e verbais. Nas raízes verbais, o tom também é usado para desambiguar a marcação de pessoa no passado recente e no presente. No nível da frase, o tom é usado para distinguir frases positivas de negativas. Com esta tese, esperamos ter contribuído para a tipologia linguística das línguas Nambikwara em particular e das línguas indígenas da América do Sul em geral.