VENDER-SE(R) NO GRINDR: efeitos da inscrição do sujeito no discurso da mercantilização do corpo masculino.
Discurso; corpo; Grindr; mercantilização; desejo.
Nas atuais condições de produção, cada vez mais sujeitos, em nossa formação social, são adeptos de redes sociais, especialmente no que diz respeito aos aplicativos de relacionamento. Desde a sua criação em 2012, o Grindr, aplicativo de relacionamento homoerótico, tem seus números de sujeitos-usuários cada vez maior (atualmente, na Play Store, loja virtual do Google, há mais de 10 milhões de downloads realizados). Assim, percebo, no Grindr, a aparição de sujeitos-usuários, normalmente homens, que, pela mercantilização do corpo, buscam incitar o desejo do outro, do sujeito-usuário possível. De acordo com Vinhas (2021), o sujeito constitui-se enquanto imagem de seu corpo, isto é, o corpo é o corpo de um sujeito, de modo que a ideologia também o atravessa e o faz significar (VINHAS, 2014). Com este trabalho, portanto, inscrito no dispositivo teórico-metodológico da Análise de Discurso materialista, cuja fundação é em Michel Pêcheux, busco analisar o funcionamento do discurso da mercantilização do corpo a partir de discursividades coletadas no aplicativo de relacionamento Grindr. Com recortes feitos a partir do Grindr, trabalho com materialidades que textualizam o corpo masculino como objeto do desejo do outro, de maneira que o corpo desliza para o corpo-mercadoria, isto é, aquele que, com base nas relações comerciais do capitalismo e com base na suposição do desejo do outro, se comercializa para conseguir a captação financeira. Contudo, mesmo o corpo, nas relações de trabalho, sempre ter sido um corpo que se submete à opressão do capital, esse funcionamento, agora, se apresenta de uma outra maneira: o corpo mercantilizado no Grindr se entrelaça a um funcionamento da ideologia que faz o sujeito acreditar na sua liberdade, já que, nesse contexto, não haveria um outro sujeito que estivesse sob o seu controle. Nessa direção, Grigoletto (2017) afirma que a internet faz trabalhar a ideologia em sua forma mais perversa, aquela em que o sujeito acredita ser livre e não afetado. Desse modo, compreendo que, de acordo com Zuboff ([2015] 2018), hoje, funciona o capitalismo da vigilância, no qual nós, sujeitos-usuários das redes, temos, sempre, nossos dados coletados pelas grandes empresas, de forma que estes dados são interpretados pelos algoritmos para produzir lucro. Assim, com as análises, entendo que o corpo, materialidade do sujeito, atravessado pela mercantilização, desliza para o corpo-mercadoria, que, através dos movimentos do sujeito na rede, significa por seu enredamento inseparável à ideologia, recoberta por uma camada digital, que permite que o capital produza outras formas de dominação.