MODELOS MENTAIS E A CONSTRUÇÃO DISCURSVA DO SEXISMO EM ESPAÇOS VIRTUAIS DE INTERAÇÃO: UMA ABORDAGEM SOCIOCOGNITIVA
Modelos Mentais; Sociocognição; Discurso; Feminismo; Facebook.
A teoria dos “modelos mentais”, proposta por van Dijk (2014; 2017), é uma abordagem fundamental para a análise crítica do discurso, pois é forjada com base em princípios que tomamos como máxima valoração e de extrema importância para compreensão de mundo, dado que estes nos revelam conceitos construídos com base em representações da realidade. Neste trabalho, analisamos Modelos Mentais como fruto de processos sociocognitivos, os quais servem à manutenção de hierarquias de poder. Entendemos, pois, que debruçar-se sobre eles é promover a desconstrução de estereótipos e, assim, reaver a identidade de grupos marginalizados. Como lócus investigativo, inserimo-nos em esferas virtuais de interação por entender que, atualmente, a internet figura como teia na qual todos os dias se tecem novas relações que conectam a sociedade em rede; as temáticas oriundas desses elos interferem na construção do pensamento humano e, consequentemente, nas atitudes de seus usuários. Dessa forma, nossa proposta é aclarar significados encobertos por meio de categorizações depreciativas, imputadas às mulheres militantes da causa feminista, presentes em comentários do Facebook, tendo como foco a análise linguístico-discursiva de postagens que refletem a violência simbólica e sexista nesses espaços. Objetivamos, com isso, obter a relação cognitivo-discursivo das representações erigidas, via modelos mentais, que perpetram a dominância machista e solidificam realidades misóginas. Para tanto, ancoramo-nos em pressupostos multidisciplinares embasados, sobretudo, na Análise Crítica do Discurso, especificamente, através das teorias desenvolvidas por van Dijk (1998; 2014; 2015a; 2015b; 2015c; 2017), as quais, por meio da interface da sociocognição, nos revelam o corpo de significações que compõe as representações mentais. Para compreender a constituição social de gênero, recorremos à Beauvoir (2016) e Butler (2003;2019); no que concerne às influências tecnológicas/ideológicas dos meios digitais, amparamo-nos, essencialmente, em Recuero (2015) e Zuboff (2019); quanto às discussões teórico-analíticas, buscamos suporte em Ciulla (2014); Cavalcante (2011); Falcone (2008). Metodologicamente, adentramos nos domínios textuais da fanpage Quebrando o Tabu, do Facebook, por esta ser uma página que abrange temas de relevância para sociedade, especialmente sobre a violência de gênero, e cujo alto número de seguidores garantem uma rica fonte de Modelos Mentais. Ao destacar os modos de referir desses usuários, nosso intuito é mostrar como certos referentes são ressignificados na construção das redes de interação/significação, de acordo com as representações sociais, por meio das (re)categorizações. Dessa forma, convém enfatizar que nossa análise se centra no âmbito lexical e, ainda, multissemiótico dessas (re)categorizações. Os resultados revelam que os Modelos Mentais são pessoais e avaliativos, portanto, influenciáveis. Eles induzem categorizações que, por sua vez, operam no depreender sociocognitivo do evento comunicativo em que os interactantes estão inseridos. Assim, os Modelos Mentais, amparado pelo contexto, infligem à produção discursiva traços simbólicos inerentes ao conhecimento e às crenças compartilhadas entre grupos, sendo, pois, por meio dessas elaborações que as representações nascem e se solidificam no meio social, consolidando modelos legitimadores de uma “realidade” ideologicamente orientada.