Crenças e atitudes linguísticas em terreiros de candomblé da Região metropolitana do Recife: um olhar sobre os usos de palavras e expressões na língua iorubá
iorubá, crenças, atitudes, identidade, contato linguístico
Peço agô à minha ancestralidade para despertar cada palavra yorubá nas travessias desta pesquisa. Palavras trazidas em grande quantidade para Pernambuco, pois Recife possuía o terceiro porto do Brasil a receber o maior número de pessoas escravizadas do continente africano, “as estimativas informam que, pelo menos, 158 mil pessoas desembarcaram nestas praias” (MELO, 2021, p. 09). Diante desse grande contingente, não nos surpreende a vasta influência negra presente nessa região, heranças africanas como o maracatu e o frevo são manifestações culturais reconhecidas nacional e internacionalmente, entretanto, quando pensamos na influência africana na língua portuguesa, no estado de Pernambuco, um abismo se abre. Nesse sentido, ao desenvolver este projeto, mergulharei nas profundezas desse abismo a fim de quebrar com a invisibilidade de estudos linguísticos sobre o iorubá em Pernambuco. Neste projeto, analisarei as crenças e atitudes do povo de santo na Região Metropolitana do Recife acerca dos usos de palavras e expressões em iorubá (AGUILLERA, 2008, 2014; BOTASSINI, 2013; FERNÁNDEZ, 1998; LOPEZ MORALES, 1993;). A abordagem teórica está ancorada nos princípios da sociolinguística de contato. Segundo Thomason (2012, p.35), o contato linguístico ocorre quando falantes de línguas distintas interagem e, dessa interação, as línguas em contato podem resistir ou não, a partir de uma relação de poder. Acredito que os estudos dos contatos linguísticos estabelecidos entre europeus e africanos durante o processo diaspórico são fundamentais para uma compreensão mais aprofundada acerca da construção da identidade negra nesses espaços sagrados. É também meu interesse perceber desenvolver um levantamento lexical de palavras e expressões em iorubá utilizadas nessas casas de axé nos dias atuais. Para tal, contaremos com a colaboração aproximada de 54 (ciquenta e quatro) membras(os) de três terreiros localizados na Região Metropolitana do Recife (18 de cada terreiro), nas seguintes cidades: Recife, Olinda e Paulista, todos de nação nagô e liderados por mulheres negras, nascidas em Pernambuco. Acredito que é nesses espaços sagrados que a língua iorubá, ou o que restar dela, resiste e fortalece a identidade negra. Quanto aos procedimentos metodológicos, aplicarei entrevistas orais e escritas, com gravações e anotações no diário de bordo com o levantamento lexical e linguísticos importantes para essa pesquisa.