"¡Ayudame a mirar!": janelas sobre a poética de Eduardo Galeano
Literatura latino-americana. Eduardo Galeano. Metaliteratura. Autoficção. Memória.
Desde que o uruguaio Eduardo Galeano (1940-2015) publicou, em 1971, o ensaio "Las venas abiertas de América latina" - contundente denúncia da exploração à qual tem sido submetida a região pelo colonialismo - sua obra sempre gozou de circulação ampla entre o público na América Latina (e fora dela). No entanto, mesmo consolidado entre os mais populares de sua geração, sempre pairou sobre sua produção uma espécie de silêncio da crítica: devido, provavelmente, ao seu estilo simples e despojado e seu evidente desprezo pelas formas prototípicas. Isso gera uma certa inquietação, uma vez que enquanto seu estilo prima por uma linguagem e formas simples e acessíveis, uma leitura atenta pode trazer à tona diferentes nuances de autorreferencialidade que apontam para uma problematização do próprio conceito de literatura. Assim, o presente trabalho tem por objetivo investigar o fenômeno metaliterário na obra de Eduardo Galeano, partindo da hipótese de que esse autor constrói, evidencia e referencia, no interior de sua obra, um projeto poético lúcido e sistemático. Como corpus principal dessa pesquisa, selecionamos as obras "Días y noches de amor y de guerra" (1980 [1978]), "El libro de los abrazos" (2015 [1989]) e "Las palabras andantes" (1995 [1993]), de Galeano, que configuram para nós um recorte temporal onde Galeano testa, experimenta e consolida suas estratégias literárias. Em paralelo, analisamos três artigos e ensaios da mesma época (1978-1980), nos quais Galeano sistematiza esse fenômeno visível nas obras. Outras produções de Galeano foram consideradas, com menor ênfase, na medida em que o desenrolar da pesquisa exigiu. Além dos textos do próprio Galeano, as discussões e análises estão fundamentadas a partir de teóricos como Arfuch (2010), Aguirre (2022), Benjamin (2012), Erll (2012), Faedrich (2021), Klinger (2006), Montali (2018).Palaversich (1995), Seligmann-Silva (2003; 2022), entre outros. As discussões propostas pelos autores citados ajudam a esclarecer determinadas linhas dentro da poética de Galeano, a exemplo do trabalho com a memória, o estabelecimento de um movimento autoficcional e o recurso à linguagem e a à literatura como estratégias de descolonização.