CRÍTICA E CONSTRUÇÃO LITERÁRIA EM A RAINHA DOS CÁRCERES DA GRÉCIA E DOM CASMURRO
Comparativismo; Mimesis da produção; Dom Casmurro, de Machado de Assis; A rainha dos cárceres da Grecia, de Osman Lins
O campo do ficcional põe em xeque as determinações dos discursos legitimados/legitimadores acerca de uma verdade. Embora o ficcional tenha sofrido veto ao longo da história, em prol de uma presumível verdade, é através deste mesmo ficcional que se abre a porta de escape ao veto (limitações do passível de ser representado; ou do verossímil), por sua possibilidade desestabilizadora daquilo que funda o real: as representações cotidianas. Para o arremate da questão da mímesis, voltando ao ponto de sua constituição como produção da diferença sobre um fundo de semelhança, segundo Luiz Costa Lima, o ficcionista produz a diferença porque a realidade, em sua transgressão para o texto literário, comparece em sua ausência, ou seja, através de sua “irrealização” (conforme Iser, 2013). Então, se o papel do ficcionista é criar “irrealidades” e não reconhecimentos – embora para o autor essas criações cheguem como realidade e, em contrapartida, para o receptor, essas criações cheguem como semelhança –, não obstante seja uma “irrealização”, “É a esta irrealidade seminal que ele suplementará com sua leitura, i.e., enfim, com sua interpretação (Lima, 2007, p. 809). Esta é a mímesis teorizada por Luiz Costa Lima, não como imitatio, mas como “mímesis da produção”, ao fugir da cópia. A nosso ver, o percurso, mesmo com o perigo de ser simplificado, devido à condição de projeto desta apresentação, é necessário para compreendermos o caráter livre, das obras em questão, da imposição da mera duplicação do real, empreendido tanto em Dom Casmurro, quanto em A rainha dos Cáceres da Grécia. Portanto, queremos apreender, ao primeiro, a visada na promoção de um certo paradigma romanesco, ao utilizar a “mímesis da produção” (Lima, 2007); e, ao segundo, também ao se utilizar do mesmo conceito, a apreensão de seu questionamento do lugar da crítica literária e/ou escrita acadêmica. Em outros termos, como estes romances se utilizam dessa compreensão da mímesis para promover a desestruturação do discurso estabelecido nessas duas vertentes? Eis o nosso problema central.