LIÇÕES DE UM LIVRO ANFÍBIO: A TRADUÇÃO INTERSEMIÓTICA EM O CÃO SEM PLUMAS (1984), DE JOÃO CABRAL DE MELO NETO E MAUREEN BISILLIAT
Poesia e fotografia. O Cão sem Plumas. João Cabral. Maureen Bisilliat.
Para além da produção poética, são constantes as declarações de Cabral acerca da sua relação com a pintura – considerada, por ele, a grande arte8 . O escritor chega a comparar o seu fazer poético – dependente, segundo ele, do ato de ver – à criação de um quadro: “Eu, para escrever, preciso ver muito o que estou escrevendo, sou incapaz de compor uma coisa de cabeça e ditar. O poema, para mim, é como se eu pintasse um quadro” (MELO NETO, 2020, p. 848). Assim, é a partir da aproximação com a pintura que Cabral destaca o caráter visual da sua poesia – “[...] a função do poeta é dar a ver” (MELO NETO, 2020, p. 849, grifo do autor). Não por acaso, são inúmeros os poemas em que a visão – sentido ironicamente perdido por João Cabral no fim de sua vida – é colocada como central. Este trabalho de pesquisa se volta para o processo de tradução intersemiótica, no livro O cão sem plumas, de João Cabral de Melo Neto, por meio das fotografias de Maureen Bisilliat, como forma de ressignificação do poema cabralino.