Vozes da periferia na literatura brasileira contemporânea: uma análise da obra Contos negreiros (2005) à luz dos Estudos Subalternos e da Teoria Queer
Marcelino Freire; Contos negreiros; Personagem; Estudos Subalternos; Teoria Queer
Esta pesquisa teve como objetivo analisar a obra Contos Negreiros (2005), do escritor pernambucano Marcelino Freire, sob o viés dos Estudos Subalternos e da Teoria Queer. A proposta foi de interligar personagens da obra a grupos sociais marginalizados, a fim de demonstrar de que modo comunidades subalternizadas podem falar por intermédio da literatura de Freire. Seguindo nessa direção, procuramos colaborar com estudos sobre o tema da subalternidade na escrita literária, propondo hipóteses acerca da fala de comunidades excluídas e percebendo seu poder de representatividade. Inicialmente, utilizamos trabalhos do campo dos Estudos Subalternos e Queer, tendo como destaque Gramsci (2002) e Spivak (2010) e seus conceitos de hegemonia e subalternidade. Para Spivak (2010), o subalterno tem como condição inerente o silêncio, pois existe contra ele uma série de barreiras que o impedem de falar e de ser ouvido. Além disso, trouxemos a problemática em torno da Teoria Queer, onde destacamos a relevância de trabalhos de Gloria Anzaldúa (1987) e Guacira Lopes Louro (1997). Esta última nos explica que o conceito de queer serve para definir uma maneira de desafiar as normas que regulam a sociedade. Nesse sentido, buscando reconhecer as vozes heterogêneas dos sujeitos subalternos em Contos negreiros (2005), contamos com o aporte teórico de estudos acerca da personagem literária, onde nos foram caras as contribuições de Antonio Candido (2010) e Beth Brait (1985). Assim, demos atenção às personagens que habitam a obra de Freire, uma vez que são responsáveis por resgatar as vozes das periferias do Brasil. Dentre essas, encontram-se homossexuais, analfabetos, ladrões, prostitutas, crianças abusadas, índios explorados e pessoas negras. Além dessas problemáticas, ainda emergem o turismo sexual e o tráfico de órgãos e pessoas. Selecionamos cinco contos dessa obra para análise, sendo eles Trabalhadores do Brasil, Solar dos príncipes, Vaniclélia, Totonha e Coração. Nossa proposta foi discuti-los a partir dos conceitos apresentados, em uma tentativa de verificar como as personagens de Freire corroboram com a luta decolonial, já que acreditamos que esses contos sejam capazes de fazer com que o leitor observe as narrativas freireanas pelo viés daqueles que nunca puderam contá-la. Indo nessa direção, podemos afirmar que a criação de personagens subalternas e queer na literatura brasileira contemporânea pode servir como um reforço positivo na batalha contra a subalternização dos sujeitos periféricos