O SUCESSO LINGUÍSTICO DAS FAKE NEWS
Fake News, Crença, Coerência, Cultura Digital, Hipertexto.
O presente trabalho de tese busca dar conta do seguinte problema de pesquisa: quais e como se dão as estratégias textuais mobilizadas no processamento textual e hipertextual que contribuem para o sucesso linguístico das fake news? Para alcançar esse propósito, nosso empreendimento teórico-metodológico consiste em associar o aparato analítico da Linguística Textual (Beaugrande, 1997; Van Djik , 2012; Marcuschi, 2004, 2008; Kock, 2005), com os Estudos do Hipertexto (Xavier, 2016), dos Estudos Multimodais da linha sociossemiótica (Kress, 2010; Kress e Van Leeuwen, 2006; Kalantzis, Cope e Pinheiro, 2020), da Linguística Cognitiva (Lacoff e Johnson, 1999; Langacker, 1997) e do Pragmatismo americano, mais especificamente os estudos de Charles Sander Peirce. Nosso trabalho constrói uma proposta de Quadro Teórico sobre Coerência (hiper)textual das fake news, no qual possibilita explicar que as pessoas leem uma fake news e constroem uma coerência (hiper)textual, deslocando a noção de verdade factual ou como correspondência para a noção de verdade pragmática com o foco para a crença (aqui entendida como convicção que conduz a um efeito prático, a uma ação) acessada no processamento (hiper)textual pelo esforço cognitivo do contexto que, segundo Van Djik (2017), é o meio para se chegar à coerência. No espaço digital, além do contexto, a virtualidade, os traços hipertextuais específicos e os designes multimodais constituem a quadra de elementos basilares para o funcionamento da coerência de uma fake news no espaço digital. Então, com base nessa quadra de elementos e no Método de Fixação de Crenças de Peirce, identificamos tipos de coerências potencializadas pelas redes, a saber, Coerência pela Tenacidade (Coerência Tenaz), pela Autoridade (Coerência Cesarista), a priori (Coerência Antecipada) e a Coerência pelo Método Científico, sendo as três primeiras as responsáveis pelo baixa densidade de leitura, pela superficialidade com que boa parte dos leitores consomem e constroem textos entre o polo do evidente e do absurdo, e o quarto tipo, a Coerência pelo Método Científico, a única que desconstrói a fake news, visto que põe a dúvida como contraponto à crença, instigando à investigação a fim de formar uma nova crença em caso de refutação da crença inicial. Buscou-se também delinear as pistas linguísticas do modus operandi desse fenômeno linguageiro na história da oralidade e da escrita (Sapir, 1971; Ong, 1982; Chartier, 1992, Harari, 2017), peculiarizando seis eras culturais, oral, escrita, impressa, de massas, de mídia e digital (Santaella, 2014), a fim de construir parte do corpus de análise com fake news dessas eras e evidenciar uma poliformia linguística do fenômeno té seu auge na cultura digital.