OS “MENORES ANORMAIS” A PSIQUIATRIZAÇÃO DA INFÂNCIA EM PERNAMBUCO (1930-1945)
Crianças Anormais, História da Loucura, Ulysses Pernambucano.
O presente trabalho busca investigar a apropriação da infância pela ciência psiquiátrica pernambucana na primeira metade do século XX. Mais especificamente, nosso objetivo central é o de caracterizar a construção histórica do conceito de “infância anormal” produzida a partir dos discursos e das práticas psiquiátricas e psicopedagógicas vinculadas à autodenominada “Escola de Psiquiatria do Recife”, tendência teórica fundamentada na herança imaterial da figura do Dr. Ulysses Pernambucano. A concepção de “infância anormal” emerge justamente no momento de aprofundamento e de aplicação das teorias higienistas e eugenistas no Brasil, das políticas públicas de assistência à infância abandonada, do movimento de reformas e de modernização das cidades e dos centros urbanos e, por fim, dos debates sobre a ampliação do ensino público. Em suma, a concepção de “crianças anormais” é um efeito histórico do desejo do poder psiquiátrico em interferir na vida e nos hábitos da população. Os mais jovens, entendidos como futuros formadores da nação, não poderiam ser legados ao esquecimento ou ao abandono governamental. Os médicos, psicólogos e pedagogos, trataram, portanto, de incluí-los em suas ingerências. Dessa forma, queremos indicar que a produção discursiva da psiquiatria pernambucana sobre a infância foi resultado de uma governamentalidade preocupada em disciplinar e regulamentar a população pernambucana em termos biopolíticos, produzindo, a partir do “dispositivo de segurança” da instituição médico-governamental, denominada de “Organização de Assistência aos Psicopatas” (1931), os enquadramentos da vida consideradas normais e anormais e, portanto,
aptas ou não ao convício social. Assim, produziu-se estratégias para regulamentar a infância e a família a partir de normativas baseadas na higiene mental, bem como, elaborou-se e aplicou-se testes de inteligência e de personalidade para enquadrar os jovens no conjunto das anormalidades, ao mesmo tempo que se instituiu uma escola especial para “crianças anormais” e, sobretudo, que se manteve um espaço asilar para afastar os ineducáveis e intratáveis.