O PÚBLICO, O DISCRETO E O SECRETO: política e sociedade em Pernambuco (1831-1843)
sociedades políticas; Período Regencial; revoltas.
Um período histórico como o Regencial não deixaria de suscitar sentidos e pensamentos distintos. A controvérsia e a polômica foram o pão quotidiano da historiografia que estudou esta fase, causando evocações conflitantes. A década de 1830 fora deveras agitada em Pernambuco. Mas não o foram também os Primeiro e Segundo Reinados? O tempo da ação do homem na história é indomável. Não segue calendários, tampouco cronologias. Portanto, este texto é marcado por idas e vindas, pois são elas inevitáveis no ofício da História. A prosa aqui versa sobre as querelas políticas em Pernambuco, desde o Dezessete, passando pela Abdicação e seus desdobramentos imediatos, até as violentas disputas políticas da década de 1840. Portanto, não respeitamos e nem desrespeitamos completamente a cronologia dos acontecimentos. A análise da agitada vida política de Pernambuco ao longo dessas décadas, motiva o argumento central da presente tese: a despeito de uma consolidada tradição historiográfica que atribui à década de 1830 a imagem de caos e anarquia, apresentamos aqui que esta foi uma fase fundamental na definição do quadro político do império, época de experimentação de distintos projetos de Estado, pluralidade de ideias e doutrinas políticas, do estabelecimento de um espaço público moderno e, principalmente, da formação de sociedades políticas - aqui entendidas como partidos - que possibilitaram treinamento e coesão entre seus aderentes, servindo como degraus fundamentais nas carreiras políticas. Três sociedades surgiram em Pernambuco durante esta década: a Federal (exaltados), a Patriótica Harmonizadora (moderados) e a Coluna do Trono e do Altar (conservadores). Os laços firmados nessas sociedades tinham valor, um prestígio político, como uma herança imaterial, que elevou dezenas de membros a importantes cargos políticos, sobretudo nas Câmaras Municipais, transformando a organização das elites políticas locais. Não foram poucos os que consideraram que o 7 de Abril fora a verdadeira independência do Brasil. Aberto o biombo, verás a pitoresca imagem de como era Pernambuco, ou como cremos que fosse, na década de 1830: complexo, agitado, contraditório e diverso.