A presente dissertação de mestrado defenderá que o mito da democracia racial brasileira se comporta como uma certeza fulcral. Tal conceito, o de certeza fulcral, foi extraído da obra “Sobre a Certeza”(1969), de Ludwig Wittgenstein. Wittgenstein questiona a solidez das aparentes bases epistemológicas convencionais e explora como nossas certezas fundamentais são expressas na linguagem e enraizadas em contextos culturais e formas de vida específicas. Ele sugere que muitas convicções são intrinsecamente ligadas às práticas sociais e linguísticas, refletindo a complexidade das declarações de certeza. Para tanto, partiremos do amplo projeto de divulgação nacional e internacional que promoveu o mito da democracia racial no Brasil, que seria caracterizada pela convivência harmoniosa a partir da miscigenação entre brancos, negros e indígenas, em contraste com o racismo evidente em outros países do mundo. Destacaremos que o mito da democracia racial mascara profundas desigualdades e discriminações raciais persistentes na sociedade brasileira dando origem a uma narrativa fundacional. Argumentaremos que o mito oculta o racismo estrutural e as disparidades socioeconômicas que afetam a população negra, fundando uma imagem de mundo que funcionaria como uma mitologia que subjetiva o racismo e justifica a estrutura colonial que racializa corpos negros e beneficia corpos brancos. Nossa proposta visa examinar criticamente o mito da democracia racial, investigando suas origens, disseminação na cultura popular e impactos na realidade social e política do Brasil, especialmente para as comunidades negras. Nesse sentido, a pesquisa utiliza a perspectiva de Wittgenstein sobre certezas fundamentais para questionar a legitimidade e os efeitos do mito da democracia racial no imaginário popular, principalmente dos corpos racializados como negros que sofrem diretamente com a repercussão dessa perspectiva dentro do seu cotidiano, até mesmo internalizando e reproduzindo padrões de racialidade dentro de suas práticas sociais.