DISPOSITIVO DA SEXUALIDADE E BIOCAPITALISMO NA CONSTITUIÇÃO DE SUBJETIVIDADES
artificialidade; biocapitalismo; dispositivo; sexualidade;
subjetividade.
A noção de dispositivo da sexualidade aparece para Michel Foucault como
ferramenta para se referir a todas as técnicas que se voltam para capturar,
analisar e direcionar os discursos sobre a sexualidade e por meio deles forjar
novas subjetividades. Para esse pensador, a sexualidade é tomada como meio
de acesso ao que pode significar a verdade dos sujeitos. Uma vez que essa
verdade é revelada, torna-se possível elaborar formas de conduzir as
individualidades segundo padrões normativos. Envolvidos na tarefa de fazer vir
à tona isso que se esconde, as Scientias sexualis passam a analisar e convocar
discursos sexuais. Realizando uma espécie de descolamento deste mesmo
dispositivo, Paul Preciado o pensa a partir dos avanços tecnológicos e
farmacêuticos realizados na contemporaneidade. A intenção de Preciado é, tal
qual Foucault, compreender quais são as forças que incidem sobre a nossa
sexualidade de forma a conduzir e produzir subjetividades. Com esse filósofo,
não apenas as ciências sexuais seriam as responsáveis pela subjetivação dos
sujeitos. Acrescenta também a indústria pornográfica e farmacêutica, tomadas
como pilares contemporâneos da produção de individualidades. O que está em
jogo, segundo Preciado, é a manutenção de um sistema que tem o corpo como
força motriz. O ponto principal deste trabalho foi constatar como o dispositivo
doa à sexualidade um caráter artificial, uma vez que é produto de um
poder/saber. Para tanto, analisou-se como se deu, em ambos os pensadores, a
compreensão dos processos produtivos de individualidade. Sobretudo os
desdobramentos que ocorreram em torno do dispositivo da sexualidade e sua
atualização para o que Preciado denomina de Biocapitalismo. Esse conceito se
refere às práticas que capitalizam a vida em todas as suas esferas, físicas e
biológicas. O objetivo aqui foi desvendar o caráter artificial da
sexualidade/subjetividade, portanto, sua não naturalidade. Assim podemos
pleitear formas outras de vivências de si, fora da cartografia posta. Uma vez que
essa artificialidade é constatada, é possível abrir brechas nas malhas que
contornam a nossa forma de ser e solidificar o que Preciado denomina
Contrassexualidade. O trabalho realizado pelos dois pensadores ilumina o
processo histórico de captura e produção de desejo, e com ele a retirada da
possibilidade de uma livre experimentação de si.