SOBRE UM FASCISMO DE MERCADO: A Relação entre Neoliberalismo e Neofascismo no Brasil Contemporâneo
neoliberalismo; neofascismo; democracia; políticas de morte; Brasil.
O neoliberalismo promoveu condições acentuadamente benéficas em prol da
acumulação de capital e da concentração de poder, renda e riqueza em nível
mundial. Em contexto periférico, a observância da conjuntura sociopolítica brasileira
contemporânea revela um cenário de discursos e práticas autoritárias, de
desumanização de políticas públicas, de ataques às instituições democráticas.
Diante de tal panorama, importa indagar: a ascensão do autoritarismo, em forças
antidemocráticas e políticas de morte, guarda relação com o projeto sociopolítico
neoliberal? Ao avançar sobre indivíduos e instituições, a racionalidade neoliberal
sobrepõe princípios empreendedoristas a princípios democráticos, tanto na vida
pública quanto na social, de tal modo a subverter profundamente a democracia
(BROWN, 2019). As mutações subjetivas provocadas pelo neoliberalismo - que
atuam no sentido do egoísmo social, da negação da solidariedade e da
redistribuição - por sua vez, podem ser apontadas como motivadoras de movimentos
reacionários ou neofascistas (DARDOT; LAVAL, 2016). Com vistas a desenvolver
tais análises, a presente pesquisa defende que o neoliberalismo conduz a formas
contemporâneas de fascismo. Propõe-se um conceito analítico de fascismo, de
categoria sociopolítica, para tratar de um fenômeno que se desenvolve no interior da
democracia neoliberal. O fascismo não deve ser reduzido a uma experiência
histórica restrita. Fenômeno que se molda às circunstâncias, é passível de
manifestar-se em contextos diversos, em autoritarismos que se apresentam com
características afins aos movimentos totalitários das décadas de 30 e 40 do século
XX. Este estudo objetiva, portanto, investigar o neofascismo que se manifesta no
contexto social e político brasileiro em suas relações com o neoliberalismo,
caracterizando, especialmente, as políticas de morte e o processo de erosão
democrática. Desenvolver uma compreensão filosófica sobre a realidade que se
manifesta em nossa contemporaneidade periférica é fundamental para promover
reflexão crítica, suscitar incômodos e a consequente proposição de mudanças.