PODE UMA “LOUCA” SER MÃE? Análise interseccional das histórias de vida de mulheres que se tornaram mães durante asilamento psiquiátrico.
Gênero; asilamento; maternidades; estupro; Reforma Psiquiátrica
Esta investigação identificou relações de poder (re)produzidas no entrelaçamento entre asilamento psiquiátrico, gênero e maternidades de mulheres racializadas. A partir de análise interseccional (CRENSHAW, 2002; BILGDE&COLLINS, 2021) do material empírico, coletado por amostragem de histórias de vida narradas, de mulheres que estiveram gestantes durante asilamento em Hospital Psiquiátrico brasileiro (HPBR). Observou-se que a instituição total (GOFFMAN, 2015) operou como representação social de processos de exclusão e como catalizador de violências de gênero. Os trâmites de admissão em HPBR aliados ao modelo de assistência psiquiátrica da época, impulsionaram a formação de engrenagem social perversa, em que mulheres racializadas, em vulnerabilidade social eram estupradas e encaminhadas grávidas pelos agressores à instituição, concedendo a eles a impunidade e a subnotificação do delito. Em seguida, as mulheres tinham as maternidades reguladas pelo HPBR. Não foi encontrado parâmetro bem definido para a separação compulsória ou a manutenção de convívio pontual, contudo considerou-se que as escolhas perpassaram a subjetivação de uma maternidade idealizada. Outrossim, o estupro se constituiu como uma prática de dominação colonial de mulheres racializadas para mantê-las em seu devido lugar (SEGATO, 2022). Neste estudo foram apresentados, brevemente, os casos encontrados durante pesquisa de campo realizada de março a agosto de 2022. Para preservar a identidade das/dos participantes, as cidades em que os campos de pesquisa foram estabelecidos, assim como os nomes das/os participante não foram revelados. Este estudo possui recorte inédito por abordar a maternidade de mulheres asiladas exclusivamente em instituição psiquiátrica e casos anteriores à Lei da Reforma Psiquiátrica brasileira. A pretensão desta investigação é aumentar a visibilidade de categorias sistematicamente excluídas ao (re)visitar os “porões” manicomiais. Foi escolhida a abordagem metodológica qualitativa interpretativa, por meio de pesquisa biográfica e análise documental, para compor as histórias de vida narradas das mulheres que foram mães em asilamento. Foi utilizado como instrumento de coleta de dados entrevistas narrativas com as ex-pacientes e familiares, assim como profissionais da saúde mental e equipe dirigente do HPBR, em que estava prevista a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE).