“A COVID TÁ BEM, A GENTE É QUE NÃO TÁ”: enfermeiras intensivistas da linha de frente em um hospital de referência para covid-19 na cidade do Recife revisitando o passado e antecipando o futuro
Cognição; imaginação; psicologia sociocultural, Covid-19, Unidades de Terapia Intensiva.
A pandemia da Covid-19 ocasionou uma sobrecarga no sistema de saúde brasileiro com a alta demanda de pacientes infectados e a carência de profissionais disponíveis para atuação na linha de frente. No Brasil, foram observados altos índices de sofrimento psíquico dos trabalhadores da área de saúde. O desconhecimento inicial da doença e a incerteza sobre os desdobramentos da pandemia no futuro vêm sendo destacados na literatura e podem provocar a imaginação, função mental fundamental da experiência humana que participa da criação de uma realidade histórica e cultural, projetando o sujeito para além do aqui-e-agora e permitindo a exploração de possibilidades e alternativas. Assim, procuramos investigar como intensivistas da linha de frente em um hospital filantrópico de referência para Covid-19 da cidade do Recife-PE/Brasil expandem sua experiência e antecipam seu futuro profissional. O estudo foi qualitativo, de caráter idiográfico. Participaram desta pesquisa duas enfermeiras intensivistas que atuam em UTIs para pacientes com a Covid-19. Aconteceram 3 encontros individuais on-line, sendo utilizados um questionário sociodemográfico, entrevistas semiestruturadas e o instrumento Cápsula do Tempo, criado para esta pesquisa. Os dados foram analisados à luz do referencial teórico dos estudos que tratam sobre a imaginação como um processo composto por 4 dimensões (generalidade, temporalidade, im/plausibilidade e corporeidade), sob uma perspectiva sociocultural como proposta por Tania Zittoun e colaboradores; também foram feitas articulações com a teoria da psicodinâmica do trabalho de Cristophe Dejours. Como resultados, foram identificados 36 episódios imaginativos e analisados 26. Os episódios foram categorizados em dois eixos temáticos condutores: 1. Eixo da experiência pandêmica; e 2- Eixo da Identidade Profissional. As dimensões do processo imaginativo foram identificadas e destrinchadas em cada episódio, com destaque para os desafios teóricos-metodológicos acerca da dimensão da corporeidade. Compreendemos que esta pesquisa corrobora com a compreensão da imaginação como um componente fundamental da experiência humana. Além disso, esperamos que este estudo possa contribuir para o reconhecimento social das enfermeiras e do seu papel fundamental na luta contra a Covid-19.