Espaços de lazer e consumo LGBTQIA+: uma etnografia sobre pertencimento e ocupação da cidade com produtores de eventos e empresários de bares no Recife.
Consumo; Espaços de lazer; Ocupação urbana; Pink money; População LGBTQIA+
A pesquisa investigou como os espaços de lazer voltados para a população LGBTQIA+ influenciam a ocupação urbana e criam rotas de consumo no Recife contemporâneo. Ela apresenta questões sobre antropologia do consumo e a antropologia urbana na tentativa de compreender como práticas de consumo podem desenhar a ocupação do espaço urbano e a noção de pertencimento. Para tal, dois espaços de lazer localizados no que está classificado como polo de lazer LGBTQIA+ do Recife e dois eventos da produtora Golarrolê foram escolhidos para a observação: Bar do Céu, Conchittas Bar, Odara Ôdesce e Brega Naite. A escolha foi pensada a partir do tempo de existência e do conhecimento popular. Trata-se de uma etnografia utilizando observação participante, entrevistas semiestruturadas e análise da rede social dos espaços e da produtora dos eventos. As entrevistas foram realizadas com empresários/as e produtores/as atuantes nos espaços e eventos, foram eles/as: Maria do Céu, Bruno Barros, Riana Uchôa e Mozart Santos. A pesquisa abordou a construção do circuito de lazer LGBTQIA+ no centro da cidade, apontando o desenvolvimento da rota existente e de como esses locais se interligam a partir das possíveis trajetórias para a chegada e saída dos espaços e eventos observados. A razão foi compreender fatores que correlacionam o consumo dos espaços e eventos com a ocupação urbana diante das escolhas dos caminhos e pontos de apoio. E, ainda, entender as condições que facilitam ou dificultam a ocupação da cidade e dos espaços e eventos. Isso origina uma ocupação permanente e o sentimento de pertencimento em partes da cidade que destacam a população LGBTQIA+ através do lazer. A pesquisa ressalta, ainda, a ideia de consumo e de público consumidor que empresários/as e produtores/as têm a partir de questões que envolvem: a noção do nicho de mercado LGBTQIA+ e o debate sobre o pink money; a cena de lazer LGBTQIA+ na cidade; a observação do comportamento consumidor; e toda a modificação ocorrida durante a pandemia para que esses espaços e eventos se mantivessem. Alguns resultados obtidos foram: 1. há um fortalecimento do nicho de mercado de lazer LGBTQIA+ na cidade, mas essa realidade não diminui atos de preconceitos contra essa população; 2. a ampliação dos espaços e eventos geram conflitos urbanos diante da ressignificação da localidade onde se encontra o polo de lazer; 3. empresários/as e produtores/as têm problemas com fornecedores e com o poder público por causa do nicho de mercado no qual estão inseridos; 4. o debate sobre pink money apresentou a compreensão de como empresários/as e produtores/as entendem os conflitos presentes no consumo LGBTQIA+ e como eles/elas observam as diferenças no comportamento consumidor de seus clientes; e 5. a crise de covid-19 modificou as estratégias de manutenção dos espaços e eventos e fortaleceu a relação dos espaços e eventos com seus clientes, aquecendo o mercado na reabertura do póspandemia.