Entre choques, apagamentos e irrupções: o caso da região de Suape e do Quilombo Ilha de Mercês
Antropologia; Quilombo Ilha de Mercês; Complexo Portuário de Suape; Territorialidade; Violação socioambiental.
A presente dissertação tem como objetivo apresentar a dinâmica de esmagamentos, apagamentos e invisibilidade promovido pela territorialidade do Complexo de Suape sobre a específica territorialidade do Quilombo Ilha de Mercês. Para isso, primeiramente é realizada uma exposição histórica do desenvolvimento da constituição do que denomino por elementos e espaços hegemônicos. Em seguida, com a finalidade de contrapor e evidenciar o processo de entrelaçamento daqueles elementos descritos com outros antagônicos que igualmente se efetua um levantamento histórico do desenvolvimento do processo de concepção dos componentes denominados como não hegemônicos até o momento de irrupção do empreendimento portuário. Posteriormente, é realizada a descrição e análise da atual lógica territorial que se faz hoje preponderante na região, isto é, do Complexo Portuário de Suape. Destarte, após se chegar à apresentação e compreensão do constitutivo e intrincado enredo atual na região de Suape, é efetuado a exposição de uma das comunidades que se encontra em processo de desterritorialização e luta contra o grande projeto de desenvolvimento pela conservação de seu estilo de vida: o Quilombo Ilha de Mercês. Para tal, a metodologia desta pesquisa se constituiu de acompanhamentos e visitas à comunidade quilombola Ilha de Mercês, hoje englobada e localizada dentro do empreendimento portuário, em Ipojuca/Pernambuco, assim como pela análise de arquivos e documentos oficiais. Ademais, exames das abundantes teses e dissertações nas áreas da história, geografia, antropologia, serviço social, dentre outras sobre a região da zona da mata do nordeste brasileiro no século XIX e XX, como também de obras clássicas que documentam mais especificamente a região de Suape e da zona da mata sul de Pernambuco foi igualmente realizado. Isto posto, o presente trabalho buscou mostrar a existência de uma precedente heterogeneidade constitutiva de ocupações e territorialidades na região que compreendemos por Suape e, consequentemente, evidenciar e apontar para a gravidade das violações que vem ocorrendo na localidade, isto é, da subjugação e transformação de uma gama de territórios e territorialidades não hegemônicas a uma hiper lógica territorial em prol da soberania do Estado e do mercado econômico, utilizando para isso do caso mais específico do Quilombo Ilha de Mercês, uma das comunidades em conflito mais intenso com empreendimento portuário.