Quando o Zemboa baixou
Muquém; Mestra Irinéia; Árvore da vida
O Muquém se estabelece aos Pés da Serra da Barriga, abraçados pelo Rio Mundaú a quem alguns moradores chamam de Zemboa. São mais de 105 núcleos familiares agrupados num território povoado de artistas populares, homens e mulheres, compartilhando vivências, percepções e expressões. A proximidade do rio imprime o ofício de ceramista a vários sujeitos dessa comunidade um marco identitário. A matéria escura removida das margens do Zemboa passa pelas mãos de mestres e mestras se convertendo em colares, panelas, esculturas humanas, tinas d’água, cuscuzeiras, mãos, pés, um de tudo. Mestra Irinéia é titulada patrimônio vivo do Estado de Alagoas, a nomeação é um reconhecimento a saberes e fazeres tradicionais concedidos a mestres e mestras de várias áreas artísticas. As cabeças esculpidas por ela ganharam o mundo, as obras que serviam, inicialmente, a romeiros em procissão como ex-votos, gratidão expressa em barro por graças alcançadas. Habituou-se a levantar no barro partes do corpo que fora curadas de males diversos, imprimiu sua estética em objetos usados como ferramenta de conexão com o divino. A árvore da vida, objeto central de análise deste trabalho, nasce numa configuração completamente diferente de suas peças anteriores. O exercício de levante dessa obra é uma experiência coletiva que enriquece a subjetividade não somente da sua família mais próxima, mas de todo o Muquém.