DÉDALO A DISCIPLINAR: a estrutura de Avalovara como provocação ao romance moderno
Avalovara; Osman Lins; Teoria do Romance; Romance Moderno
Avalovara, romance de Osman Lins publicado em 1973, possui uma estruturação que chama atenção do leitor desde os momentos iniciais. É sua análise o coração deste trabalho. Mais do que analisar as engrenagens dessa estrutura, pretendemos observar as suas implicações em relação ao romance enquanto gênero literário. Partindo do pressuposto de que a autorreferencialidade e a autoconsciência de Avalovara tornam-lhe uma obra atenta à sua própria natureza, pretendemos utilizar de sua estrutura para refletir sobre as possibilidades e impossibilidades do romance moderno. Para sedimentar as bases da discussão acerca do gênero, utilizamos notadamente Georg Lukács, Ian Watt, Mikhail Bakhtin e Anatol Rosenfeld. Após esse breve embasamento macroscópico, analisaremos a transformação por que passou o romance no século XX, conferindo especial atenção para o caráter experimental e disruptivo que marcam o período — o que, acreditamos, permitiu o surgimento de um romance como o de Osman Lins. Em seguida, considerando o fato de que Avalovara parte da restrição de sua própria liberdade para exercê-la, refletiremos sobre a natureza provocativa de tal atitude, no que esta possui de reverberação interna e externa ao próprio texto. Para tanto, estabeleceremos paralelos entre a obra de Osman Lins, o Nouveau Roman e o grupo francês Oulipo. O último, em especial, nos fornece o conceito de contrainte, fundamental para as inquirições subsequentes. A partir da análise detida dos dois núcleos da narrativa que tratam de sua própria fatura, teceremos algumas observações acerca do método rigoroso do romancista e suas implicações em relação ao universo romanesco. Por fim, observaremos como os mecanismos de constrangimento da liberdade na criação do autor e outros aspectos da obra em questão (a representação da realidade, a autorreferencialidade e a relação entre homem e cosmos) realizam uma provocação ao romance moderno enquanto gênero e estrutura literária.