Ontologias e intuitividade em softwares DAW: um estudo com licenciandos em música da UFPE
Música e intuitividade. Música e ontologias. Música e fenomenologia
A intuição costuma estar presente nas interações entre seres humanos e artefatos tecnológicos, tal como nas ocasiões em que manuseamos novos equipamentos eletrônicos sem lermos os manuais dos fabricantes. Nos espaços onde se produz música para mídias digitais, a profusão de novas tecnologias e artefatos digitais eleva a importância da intuitividade, em profissionais experientes, como uma verdadeira habilidade que lhes permite extrair novas informações a partir de suas memórias e do estabelecimento de conexões e associações ontológicas. Mas, e se desde o inicio de sua formação profissional, o estudante perceber essa possibilidade de se fazer analogias e conexões ontológicas entre os diversos objetos digitais, como isso afetará a sua intuitividade? O objetivo geral deste estudo foi, assim, analisar a percepção de intuição em estudantes do curso de Licenciatura em Música da UFPE que utilizaram algum software do tipo Digital Audio Workstation (DAW) pela primeira vez, e como o conhecimento de ontologias pode afetar essa percepção. A pesquisa teve como objetivos específicos: 1) Compreender como é, para um grupo de seis estudantes que já tenham concluído as disciplinas MU945 - Tecnologia Aplicada à Educação Musical e/ou MU679 - Técnica de Gravação, realizar uma tarefa de mixagem simples em algum software que eles jamais utilizaram antes; 2) Comparar as percepções dos participantes que realizaram a tarefa antes de assistirem a um vídeo introdutório sobre ontologias, produzido pelo pesquisador, com as percepções dos participantes que realizaram a tarefa depois de assistir ao mesmo vídeo; e 3) Descrever as estruturas emergentes das experiências relatadas que permitam explicar e interpretar eventuais relações entre ontologias e intuitividade, no contexto do estudo. A pesquisa, de abordagem qualitativa e aporte teórico-metodológico baseado na fenomenologia, obteve seus dados empíricos a partir de entrevistas semi-estruturadas e análise dos fonogramas produzidos. A interpretação dos dados revela a intuição, no contexto do uso de artefatos tecnológicos, como um saber probabilístico. Sua operação se configura pelo encadeamento de três eventos. No primeiro, o sujeito se depara com uma realidade imediatamente desconhecida e se ocupa em identificar as imagens e os objetos dessa realidade. No segundo evento, o sujeito vasculha a própria memória à procura de imagens semelhantes àquelas apresentadas pela realidade imediata, a fim de encontrar ligações, fazer correlações e estabelecer conexões entre elas. O terceiro evento é o teste lógico, que quando verdadeiro encerra a ação e quando falso, desencadeia uma iteração, testando outras possibilidades imagéticas. A prática de pensar o mundo e os objetos por suas relações ontológicas pode auxiliar na produção dessas imagens. O estudo nos permite pensar no desenvolvimento de uma intuitividade na formação inicial de professores de música.