Quando um projeto politico quer ensinar os termos de uma sociedade: Genero e Familia no discurso da ultradireita brasileira (2019-2022)
Teoria do Discurso. Política. Ultradireita. Ativismo Antigênero. Familismo.
Esta pesquisa investiga a articulação discursiva do ativismo antigênero e da defesa familista promovida recentemente pela coalizão de ultradireita no Brasil, com especial atenção ao período do governo Bolsonaro (2019–2022). Fundamentando-se teórica e metodologicamente a partir da Teoria do Discurso de Ernesto Laclau e Chantal Mouffe, e dialogando com contribuições complementares de áreas como a sociologia das religiões, a ciência e a filosofia política, além dos estudos em educação e currículo, nossa análise visou compreender de que modo certos significantes, como “ideologia de gênero” e “família”, foram mobilizados de forma estratégica no campo político-institucional brasileiro recente e se tornaram instrumentos fundamentais para a efetivação do que entendemos ser o objetivo pedagógico central daquele discurso político-ideológico: a definição dos termos sociais em chave neoconservadora. Nesse sentido, provocados pela atuação antigênero do neoconservadorismo nas disputas educacionais da última década, examinamos os vínculos transnacionais e religiosos que sustentam essa agenda, com especial atenção em sua origem católica e na sua inserção no cenário político nacional. A partir disso, elaboramos uma análise de fragmentos discursivos de figuras-chave daquele governo que operaram na produção e difusão de uma pedagogia familista antigênero institucionalizada e, também, refletimos sobre elementos estruturantes dessa formação discursiva, em particular, a sua relação com a hegemonia neoliberal e o uso de lógicas fantasmáticas na mobilização afetiva de sujeitos. Dessa forma, saindo um pouco da prática comum de pesquisas no campo da Educação que demonstram acertadamente que toda pedagogia é política, o que este trabalho faz é, por sua vez, inverter essa relação no sentido de evidenciar que, na verdade, toda política também é fundamentalmente pedagógica através de suas articulações discursivas que disputam e ressignificam os sentidos do social.