UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE A PRÁTICA DE UM PROFESSOR DE CIÊNCIAS NO CONTEXTO DE UMA SALA BILÍNGUE PARA SURDOS EM RECIFE
Ensino bilíngue; Surdos; Ensino de Ciências.
A educação de surdos foi marcada historicamente pela exclusão e tentativas de imposição à oralidade, sendo considerados inicialmente incapazes de aprender por não dominar a fala oral. Apenas nas últimas décadas, com os movimentos dos surdos pelo reconhecimento e direito linguístico, houve a inserção dos surdos no âmbito educacional. A relevância do tema se consolida ao revelar as principais lacunas que apontam para a formação de professores, sobre as estratégias de ensino inclusivas e adequadas às necessidades dos estudantes surdos, ampliando o conhecimento científico na área da educação de surdos e do ensino de ciências, e abrindo caminhos para futuras pesquisas e aprimoramentos nesse campo. O ensino de ciências para alunos surdos apresenta desafios específicos, dado a complexidade dos conceitos científicos e a necessidade de adaptações pedagógicas, por isso a comunicação visual é essencial para os alunos surdos, algo desejado nas salas bilíngues. Por objetivo, esta pesquisa se propõe a investigar a eficácia da sala bilíngue como política pública na formação científica de estudantes surdos nas aulas de Ciências da Natureza. Nossa metodologia se propõe a ser um desenho de pesquisa qualitativa, em que se realizou uma triangulação com os seguintes instrumentos: i) análise dos dados coletados através da prova do SAERE, ii) entrevistas com professor e estudantes, iii) observações das aulas. Este processo rigoroso de integração e análise dos dados permitiu uma compreensão profunda e contextualizada das estratégias pedagógicas no ensino de Ciências para alunos surdos, o que muito contribuiu para o campo da educação inclusiva e bilíngue. Como resultados, destacamos que com a análise das narrativas, observações das aulas e diagnóstico do Sistema de Avaliação da Educação Básica do Recife (SAERE) revelaram que o ensino bilingue para surdos está longe de ser uma modalidade de ensino eficaz e equitativo. Destacamos como pontos cruciais a fragilidade nos recursos didáticos, muitos inadequados ou insuficientes, e pela carência de professores com formação na área das Ciências da Natureza e com comunicação em libras. Outro aspecto está na ausência de formações contínuas aos professores, currículo inadequado por não ser adaptado ao estudante surdo e o glossário de ciências que caminha para o não sucesso do estudante surdo. Para isso, faz-se essencial uma efetiva mudança paradigmática que transcenda adaptações superficiais, reconhecendo a língua de sinais como um sistema linguístico complexo e valorizando as especificidades culturais da comunidade surda. Somente assim será possível promover uma educação que não apenas inclua, mas potencialize o desenvolvimento integral dos estudantes surdos.