RESTAURAÇÃO NEOLIBERAL, EDUCAÇÃO CAMPONESA E HEGEMONIA: disputas e projetos de 2015 a 2022
Educação do Campo; Neoliberalismo; Hegemonia.
O presente trabalho é fruto de inquietações individuais e coletivas a respeito das transformações políticas e econômicas que atravessaram o Brasil, principalmente nos últimos 10 anos. Nasce do confronto entre o ideário pretendido por movimentos sociais ligados à educação do campo, como uma educação “emancipadora” e crítica e a realidade da educação neoprodutivista implementada pelo capital neoliberal nos últimos 30 anos. Com o fim do ciclo das políticas de conciliação do Partido dos Trabalhadores (PT) e restauração de uma variante neoliberal ortodoxa, vários ataques foram inferidos aos direitos das populações camponesas. Aqui pretendemos examinar a disputa de hegemonia a educação para as populações do campo em disputa nesse período. Para isso, temos como objetivo geral: examinar a disputa de concepções de educação para as populações do campo e como esses projetos têm sido implementados com a restauração da variante neoliberal ortodoxa no Brasil. E como objetivos específicos: (i) caracterizar o contexto político e o modelo econômico instaurado no Brasil no período analisado; (ii) identificar quais as concepções de uso do campo, de educação e de sociedade se apresentam como antagônicos e quais suas manifestações concretas destes na disputa de hegemonia; e (iii) identificar e analisar a atuação das frentes do capital sobre a educação camponesa no período, assim como a atuação das organizações ligadas à Educação do Campo. Para isso realizamos uma pesquisa documental buscando dialogar com dados que revelem a realidade do fenômeno. Nesse sentido, buscamos documentos em organizações ligadas ao polo do capital, ao polo do trabalho e documentos de órgão estatais que tratassem diretamente ou rebatessem no tema da educação para as populações do campo. Como método científico, partimos do Materialismo Histórico-Dialético, em uma concepção Gramsciana, tendo como categoria central a Hegemonia. Verificou-se que a disputa entre as classes e frações de classes no campo se caracteriza como uma disputa de hegemonia. Estas classes historicamente têm lançado mão de um projeto de educação, de campo e de sociedade, buscando construir sua própria direção moral e intelectual da sociedade. No entanto, no campo da educação, nos últimos anos o que se viu foi uma ofensiva brutal do capital, principalmente do agronegócio no campo, produzindo expropriações e reforçando o seu papel enquanto maneira hegemônica de organizar o campo brasileiro. Para isso o setor possui frentes políticas e ideológicas quem buscam inferir sobre o direcionamento das políticas educacionais e agrárias.