Animais informes: perspectivas para alem do humano na cinematografia de Bela Tarr
Béla Tarr, bestiário, cinema, Georges Bataille, informe
Partindo de uma memória de infância, em que meu corpo estava vinculado a
animais condenados ao inferno, o presente trabalho parte da coexistência
entre sujeito e corpus, manifestando-se através do meu encontro com a obra
do cineasta húngaro Béla Tarr. Esse encontro trouxe à tona animais que
estavam adormecidos na memória e, a partir do conceito de informe,
introduzido por Georges Bataille, encontra uma maneira de lacerar as imagens
com o objetivo de investigar perspectivas para além do humano. Nesse
sentido, invisto na tarefa de revirar as imagens com a intenção de fazer o
baixo tocar o alto ou ainda o eu que desemboca em outras alteridades, sejam
elas humanas ou não. Atentamo-nos à imagem da aranha, que condensa o
cosmos, de modo que o universo se assemelha a uma aranha – ou a um
escarro. Segundo Bataille, essas criaturas imundas seriam a própria
materialização do informe. Nos filmes de Tarr, a terra desolada constitui um
universo onde criaturas medíocres ainda conseguem afirmar os resquícios de
sua dignidade. Uma espécie de bestiário emerge em filmes como Damnation
(1988), Sátántangó (1994), Werckmeister Harmonies (2000) e O Cavalo de
Turim (2011). À medida que o estudo avança, buscamos aproximar o conceito
de Bataille das imagens de Tarr, aprofundando as relações com o informe com
o objetivo de reavaliar as tarefas das formas sob novas formas.