É POSSÍVEL SER FELIZ MESMO EM MOMENTOS DE CRISE? Inspiração e autoajuda empreendedora dos coaches
na pandemia da Covid-19
Crises; Autoajuda empreendedora; Cultura da inspiração; Coaching; Instagram.
Desde as primeiras décadas dos anos 2000, a autoajuda vem obtendo mais visibilidade na mídia em decorrência do seu crescimento exponencial. Por consequência, o gênero extrapolou a literatura e se fragmentou na ambiência dos sites de redes sociais. Neste contexto, figuras como coaches ganharam destaque em virtude de polêmicas como a falta de regulamentação da atividade, a prática ilegal da psicologia e a espetacularização do discurso inspiracional nas mídias sociais digitais. Após a disseminação do novo coronavírus, optamos por direcionar a pesquisa levando em consideração o discurso de autoajuda neste cenário de crises. Assim sendo, este trabalho se propõe a analisar como coaches influentes no Instagram materializam o discurso inspiracional voltados à crise em um período de instabilidade como a pandemia. Para tanto, partimos de um arcabouço teórico constituído de estudos sobre Acontecimento discursivo (PÊCHEUX, 2006), Capitalismo afetivo (ILLOUZ, 2011), Cultura da inspiração (CASAQUI, 2017), Autoajuda (MARÍN-DÍAZ, 2015) e Neoliberalismo (DARDOT; LAVAL, 2016; SAFATLE; SILVA JUNIOR, DUNKER, 2021). A abordagem metodológica está amparada na análise de conteúdo de Bardin (1977) e nos estudos de Maingueneau (2004, 2008 e 2015) sobre cenas de enunciação. Selecionamos como objeto de estudo vídeos do Instagram produzidos pelos master coaches José Roberto Marques e Paulo Vieira. Com esta investigação, compreendemos que o discurso inspiracional dos coaches é atravessado por uma série de silenciamentos (ORLANDI, 2020), ao ocultarem a complexidade da conjuntura de crises e enaltecerem a perspectiva individual como a resolução dos problemas. Se ancoram no discurso científico visando chancelar suas soluções para a saída da crise, alternativas estas atreladas ao consumo de seus próprios serviços e condizentes com os preceitos da racionalidade neoliberal.