RASTROS, RASTREAMENTOS E ALGUMA COISA SOBRE OS ROSTOS QUE EU NÃO QUERO MAIS RISCAR: A produção audiovisual de adolescentes sob medidas socioeducativas no projeto Cartas ao Mundão
cinema; educação; medidas socioeducativas.
Este trabalho busca investigar os limites dos conceitos de identidade, visibilidade e autoria nas produções audiovisuais do Cartas ao Mundão, projeto que mediou oficinas de vídeo e sessões cineclubistas para adolescentes sob medidas socioeducativas entre 2016 e 2018, na Região Metropolitana do Recife e Mata Sul Pernambucana. Tratamos aqui da produção de um público predominantemente marginalizado que, em conflito com a lei e sob a tutela do Estado, deve ter a divulgação de sua imagem e identidade preservadas - o que exige e justifica o uso comum de tarjas ou borrões desfocados sobre seus olhos e rostos. Logo, a possibilidade de ser ver na tela, nesta escrita de si, torna-se uma busca constante e, o fato de estar representado e se ver na imagem, produz um engajamento imediato, ao passo em que escancara uma crise: em um contexto em que o reconhecimento de si está pautado pela visibilidade, o exercício mesmo da visibilidade esbarra em interdições jurídicas. Para estudar as motivações, os atravessamentos e efeitos dessa crise, examino os limites dos conceitos supracitados através de uma investigação ensaística, me debruçando sobre os relatos de experiência, exercícios audiovisuais e filmes-carta realizados no projeto, especulando sobre possíveis modos de uma presença emancipadora do cinema nos espaços socioeducativos, tentando entender como os jovens podem (re)inventar papéis e desestabilizar estigmas, e arriscando uma defesa do desvio enquanto exercício político frente à docilização estratégica do projeto disciplinar.