CARTOGRAFIAS DO (IN)VISÍVEL: As marcas urbanas das mulheres das resistências do Recife
Marcas urbanas; Mulheres das resistências; Epistemologias feministas; Interseccionalidade; Escrita contra-hegemônica; CadÚnico.
Ousando construir uma escrita afetiva, combativa, poética, inclusiva e revolucionária, esta tese é apresentada como uma travessia guiada pelas velas das epistemologias feministas plurais e situadas, em direção à compreensão das marcas urbanas inscritas nos corpos-territórios e cotidianos das mulheres das resistências que habitam os territórios populares do Recife. Conduzida por um projeto metodológico-político-ético situado, a pesquisa ancora-se na etnografia feminista crítica e faz uso da metáfora da barca para nomear o conjunto teórico que sustenta a definição desses corpos-território, enquanto os remos que impulsionam o percurso são os dados do Cadastro Único, que permitem atravessar números e estatísticas rumo a histórias concretas, nomes próprios, rostos e práticas de vida. Com base em abordagem qualitativa, a produção de dados foi realizada por meio de entrevistas narrativas, listas de itinerários, mapas perceptivos, observação participante e diário de campo, junto a dez mulheres marcadas por opressões interseccionais de gênero, ‘raça’ e classe social. A análise temática narrativa permitiu mergulhar nas profundezas dessas experiências urbanas, das quais emergiram seis tipologias: “Da Cidade que Limita e Pesa”, “Da Cidade que Fere”, “Da Tensão Encarnada”, “Da Coragem Cotidiana e Desobediente”, “Do Respiro Possível” e “Do Olhar Ambíguo”. Cada uma delas revela ambivalências entre medo e pertencimento, silenciamento e resistência, e contribui para a formulação do conceito de marcas urbanas: registros simbólicos, afetivos e materiais que expressam tanto os impactos desiguais da produção do espaço urbano quanto às formas de resistência e reinvenção cotidiana exercidas por essas mulheres. Longe de serem apenas vestígios passivos da cidade sobre os corpos, essas marcas também são impressões ativas sobre o tecido urbano, produzidas por gestos cotidianos como orações, estratégias táticas e redes de cuidado. Embora não se tenha delimitado conclusivamente quais marcas impulsionam diretamente a militância organizada, a tese demonstra que as resistências cotidianas são formas legítimas e potentes de disputa pelo direito à cidade. Ao final, este trabalho se propõe como convite a novas navegações acadêmicas, em que o corpo seja instrumento de escuta, a cidade um campo de disputas simbólicas e a escrita uma vela que desafia os ventos hegemônicos e aponta margens outras possíveis de existir.