UTOPIAS RIBEIRINHAS, HETEROTOPIAS DO PODER: LUTA DE CLASSES E A MARGINALIZACAO DA RIOTECA NO RECIFE
1. RioTeca; 2. Heterotopia; 3. Planejamento Urbano; 4. Margens do Rio Capibaribe; 5. Recife Cidade Parque.
Esta pesquisa analisa a contradição da produção de espaços públicos entre as margens do Rio Capibaribe no Recife, contrastando a valorizada margem esquerda com a negligenciada margem direita. Destacamos a RioTeca, espaço público popular surgido em 2017 no bairro da Torre como resposta ao subdesenvolvimento do território. Combinando biblioteca, parque infantil e áreas de convivência com objetivo de atender as necessidades cotidianas, a RioTeca utopia, consolidou-se como uma heterotopia em um território historicamente marginalizado. Metodologicamente, o estudo reconstitui a história do território onde a praça está localizada, na Vila Santa Luzia, através de fotos, documentos, reportagens e observações, desde o período da Favela Abençoada por Deus até sua remoção em 2008, passando pelo surgimento da RioTeca em 2017 e a posterior formação da atual favela Via Mangue, vizinha a praça. A análise revela como a requalificação imposta na RioTeca pela PCR em 2019, apesar de modernizar a infraestrutura, desconsiderou o patrimônio-territorial da comunidade, limitando seu potencial e expondo tensões entre planejamento institucional e ações populares. Critica-se também o Parque Capibaribe (PPC), cujo discurso de sustentabilidade mascara práticas excludentes ao priorizar áreas valorizadas na margem esquerda. Conclui-se que a RioTeca, enquanto heterotopia, simboliza uma ação de resistência comunitária, como também uma potência teórica para o planejamento urbano ribeirinho, refletindo as contradições urbanas de ordem capitalista no Recife. O estudo defende políticas urbanas que dialoguem com dinâmicas locais e sugere novas pesquisas sobre urbanismo emergente em territórios periféricos.