TOPOANÁLISE DE UMA PAISAGEM FRONTEIRIÇA: A poesia de Joaquim Cardozo e de Moreira Campos e a experiência moderna no Nordeste brasileiro
Poesia moderna; Joaquim Cardozo; Moreira Campos; Topoanálise; Fronteira poética.
Esta dissertação investiga as aproximações temáticas e estilísticas entre as formações líricas de Joaquim Cardozo e Moreira Campos, a partir da análise de suas obras inaugurais Poemas (1947) e Momentos (1976). O estudo busca compreender como ambos os poetas elaboram, por meio de uma linguagem lírica singular, uma reflexão sobre a modernidade nordestina em processo de urbanização durante o século XX. A pesquisa propõe-se a identificar de que modo as transformações urbanas de Recife e Fortaleza influenciaram suas representações poéticas do espaço e do sujeito moderno. O percurso teórico-metodológico parte da topoanálise, conforme delineada por Ozíris Borges Filho (2007), como instrumento de leitura que articula espaço, subjetividade, experiência poética e a noção de fronteira. A partir de Gaston Bachelard (2000), mobiliza-se a noção de imagem poética como elemento que expressa o entrelaçamento entre memória, devaneio e habitar. Walter Benjamin (1994) fundamenta a reflexão sobre a experiência moderna como vivência fragmentada, revelada nas ruínas, nos resíduos e na perda da aura urbana. Por fim, Marcos Siscar (2010) orienta o debate sobre o discurso de crise que atravessa a modernidade lírica e estrutura a tensão entre tradição e ruptura nas
obras analisadas. Os resultados apontam que as poéticas de Cardozo e Campos convergem na denúncia do custo humano e simbólico do progresso, revelando um lirismo melancólico que tensiona o passado e o presente, o local e o universal. Em ambos, a cidade emerge como metáfora da experiência moderna periférica - mutilada, espectral e fragmentária, mas ainda permeada de resistência estética. Assim, as obras analisadas configuram uma alternativa à tradição regionalista e às correntes canônicas do Modernismo, construindo uma sensibilidade moderna própria do Nordeste brasileiro.